OPINIÃO

Pleito em suspeição 

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O questionamento do resultado da eleição provocou a irrupção de um conflito que abalou o Rio Grande do Sul. O Poder Judiciário não pode ou não quis arbitrar. O diálogo estava rompido desde o final do século anterior. A imprensa alinhada com o poder instituído cumpria seu papel, atacando frontalmente a tese dos oponentes. Por seu turno, os editores dos jornais identificados com a oposição atacavam o caráter da reeleição e do processo eleitoral A tomada da Estação Ferroviária de Carazinho no vigésimo quinto dia do mês de janeiro foi o estopim. O telegrama enviado do Distrito de Passo Fundo no mesmo dia para o então capital federal, clamando pela intervenção no Estado, a anulação da eleição, o impedimento da posse, e um novo pleito, não teve eco nos palácios do Rio de Janeiro.


II - A guerra civil ocorrida há um século, que se estendeu ao longo dos 341 dias seguintes, colocou em trincheiras opostas os seguidores do governo de Borges de Medeiros, reeleito para um quinto mandato, e de Assis Brasil, líder da oposição, e candidato derrotado. Os seguidores do primeiro, líder supremo do Partido Republicano Riograndense desde a morte de Júlio de Castilhos, receberam a alcunha de chimangos. Os partidários do segundo, dissidente do PRR, de maragatos. Ao contrário de Assis Brasil, que percorreu diferentes quadrantes do RS na busca de votos, Borges de Medeiros não saiu de Porto Alegre. Por certo acreditava que cumpriria o previsto no artigo 9º da Constituição Estadual de 1891, que determinava que o presidente, como era designado o governador, “exercerá a presidência por cinco anos, não podendo ser reeleito para o período seguinte, salvo de obtiver o sufrágio de três quartas partes dos votos.”. 


III - A jovem república, proclamada há 33 anos, não possuía uma Justiça Eleitoral. O voto, restrito a um diminuto número de brasileiros, era em aberto, ou seja, feito à mostra Dos 267.690 eleitores inscritos no RS apenas 138.598 votou na eleição de 25 de novembro de 1922. Reza a lenda que até mortos votaram, Nos estertores do inverno de 1923 o presidente Artur Bernardes enviou Setembrino de Carvalho, Ministro da Guerra, para mediar o armistício que chegaria a bom termo com a assinatura do Pacto de Pedras Altas, ocorrido no Castelo de Assis Brasil, em 14 de dezembro. Borges exerceu o mandato até o final, mas a Constituição foi alterada, suprimindo a possibilidade de reeleição. O território ao norte de Passo Fundo também foi palco da guerra civil. O centenário da chamada Revolução de 1923 será tema de reportagens, artigos científicos e encontros acadêmicos. Como fez em 1998 e 2003, o Instituto Histórico e Geográfico de Getúlio Vargas irá promover um seminário, em nível estadual. E como não poderia deixar de ser, o tema central será o Combate de Quatro Irmãos, ocorrido no dia 13 de setembro.

 

 

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