Nos últimos dias, a tensão entre Washington e Pequim escalou de forma significativa, pelo fato do balão de espionagem chinês, abatido no espaço aéreo americano. A polêmica do balão demonstrou que a relação entre os países é de extremo desconforto, todavia, existem outras questões muito mais relevantes do que um simples balão de espionagem, no tabuleiro geopolítico sino-americano, entre elas, o Mar do Sul da China e Taiwan. Fiquemos com a primeira. Enquanto um balão não faz uma guerra, o potencial de escalada no Mar do Sul da China é amplamente uma preocupação constante para Washington e Pequim. Nas últimas décadas, a China operou uma transformação em sua marinha, hoje a maior do mundo – ao projetá-la para águas internacionais. O Mar do Sul da China é uma porção marítima de extrema relevância geoestratégica, uma vez que ali passa grande porcentagem dos navios comerciais. Outra característica é que na região existem importantes reservas de hidrocarbonetos fluidos e gasosos, como nos arquipélagos Spratly e Paracel, como são conhecidos. A China, com seu o objetivo de expansão global, reclama a totalidade do mar como se fosse o seu território e tem envidado todos os esforços para dominar estrategicamente a porção marítima. Dentre os principais países ribeirinhos ao mar, surgem as Filipinas, com posição geográfica importante, já que se forma uma espécie de arco naquele mar.
Filipinas
A relação entre Washington e Pequim, antes do episódio do balão, estava com os ânimos acirrados, em função do anúncio do novo acesso americano em quatro bases militares nas Filipinas, em parte, pela preocupação do avanço chinês. O fato é decorrência do Acordo de Cooperação de Defesa Aprimorada, entre os países. O programa é peça estratégica para a aliança EUA-Filipinas. O movimento americano também está vinculado à conjuntura de Taiwan, com a preocupação de uma anexação ilegal pela China, futuramente. A reação chinesa não demorou. A Guarda Costeira das Filipinas acusou Pequim da tentativa de cegar a sua tripulação com uma espécie de laser militar, nas proximidades das ilhas Spratly, no Mar do Sul da China. EUA e Filipinas irão conduzir neste ano, um dos maiores exercícios militares desde 2015, no mar – enquanto Manila condena as ações agressivas da China na região. Os exercícios serão conduzidos em abril, conhecidos como Balikatan – envolverão 16 mil soldados filipinos e americanos, incluindo um exercício de tiro real. Filipinas tem uma longa história com os EUA, em decorrência do Tratado de Paris, onde Madri deixou de controlar a colônia, passando-a aos americanos até o momento quando as Filipinas conquistaram a sua independência, em 1946. Desde lá, a ocupação militar sempre foi estratégica.
Tensões
Uma das verdadeiras tensões entre Washington e Pequim é certamente a que envolve o Mar do Sul da China, muito mais que um balão de inteligência (usual para coleta de informações). Aqui há um potencial de escalada para um conflito no Mar do Sul da China. Os exercícios militares dos EUA e Filipinas trarão um simbolismo de contenção da projeção chinesa. Cada movimento neste tabuleiro geopolítico é extremamente calculado e arriscado.