OPINIÃO

Democracia inviolável

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O período sangrento urdido nos porões da ditadura e a série de perseguições à liberdade de pensamento, desde o golpe de 64, suscitou legítima rebeldia do povo brasileiro. A recrudescida censura à imprensa, vitimando resistentes libertários na comunicação erigiu legendas de heróis. Lideranças políticas e evidências da arte e cultura no exílio instigavam anseios democráticos. Os que aqui ficaram exercendo contrariedade à imposição ditada pela ruptura constitucional não se conformaram com o regime de forças. Era demais a desconsideração aos cidadãos cerceados como moradores de segunda classe perante uma casta mandante e arbitrária. Nos anos de l983 e 1984 deflagrou-se o movimento pelas eleições diretas à presidência da República. Foi o mais amplo movimento popular que tomou espaços em todas as instâncias institucionais e, principalmente as ruas. A lei da anistia permitiu o regresso à pátria de lideranças banidas da política partidária, da cultura, arte e movimento jovem estudantil. Foi um ano de manifestações pacíficas, mas incontidas pelo governo militar, que já perdia força pelas incongruências sociais e esdrúxulos favoritismos. O povo cansado de injustiça e incompetência de gestão eclodiu nas ruas clamando por eleições diretas. É a nossa história recente de uma luta suprapartidária por liberdade e pela construção de políticas públicas no desenvolvimento econômico e social. Instalou-se expressamente a consciência popular a um dos pressupostos dos Direitos Humanos, ou seja, dar ao povo o direito de escolher seu destino.

Ao completarmos quarenta anos deste movimento, evidencia-se que a nação quer decidir pelo voto seus rumos políticos. A sombra do autoritarismo, no entanto, tem rondado perigosamente a nacionalidade. O episódio dos atentados criminosos em Brasília indica o retorno de uma fúria insana contra o sentimento reconstruído e respeito à Constituição. Nada justifica o vilipêndio das conquistas democráticas. Mas é preciso permanente vigilância no fortalecimento do verdadeiro rumo escutando a voz do povo.

 

Invasão

No começo do governo passado surgiu o discurso com aparência nacionalista, afastando a ajuda estrangeira na ajuda à preservação da Amazônia. A rejeição dos convênios de ajuda internacional com países europeus vinha sob alegação de soberania territorial. Pois bem, no escândalo do abandono aos índios em Roraima apareceu o interesse escuso de beneficiar oficialmente a exploração ilegal do garimpo. Pior é saber que o controle das áreas demarcadas das tribos Yanomamis vinha facilitado a exploradores estrangeiros peruanos, fortemente armados. A presença da Força Nacional no território indígena para o salvamento e segurança do socorro, revela o aparato do crime organizado invasor dizimando redutos de nativos, desmatando, envenenando rios e deteriorando o solo. Mais ainda, grupos fortemente armados instalaram fortes de repressão impedindo a chegada de remédio e escolas aos índios. A força tarefa emergencial acessa aos poucos a comunidade nativa acometida pela fome, doença e toda sorte de desamparo. Então, quem vem roubando nosso território não é a ajuda dos países europeus, que voltará a investir na preservação amazônica, mas é o crime internacional tolerado pela omissão governamental. Além do atendimento imediato para salvar vidas nas aldeias guardiãs da floresta, a força nacional enfrenta grupos armados que resistem e se embreiam na mata para desmatar e violar os direitos dos moradores das reservas.

 

Fraternidade e Fome

Com o período da Quaresma a Igreja reforça a missão pastoral da cristandade no combate à fome. O Papa Francisco tem sido orientador insistente no atendimento aos que sofrem com a falta de alimento. O tema Fraternidade e Fome versa sobre a base da pregação de Cristo que visitou a Terra, viveu e morreu na cruz. Fora do contexto espiritual e humanitário de olhar para o semelhante, socorrer na falta de alimento e condições de vida, não há que se  falar em religiosidade. Fé não se isola da fraternidade, missão irrenunciável do ser humano. Na verdade, o alimento é a condição mínima para a revelação do ser humano, para que possa se ajudar na vida digna.

 

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