OPINIÃO

Análogo à escravidão

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Os fatos apurados pela Polícia Rodoviária Federal, Ministério do Trabalho e Emprego, e Polícia Federal, trouxe à tona alarmante situação análoga ao trabalho escravo. Mais de uma centena de operários contratados pelas empresas Fênix Serviços de Apoio Administrativo & Oliveira Santana, de forma terceirizada, eram mantidos em precárias condições de trabalho em alojamentos, a serviço de vinícolas gaúchas. A investigação apontou graves ofensas aos direitos humanos na contratação e vícios de aliciamento nos contingentes trazidos de outros estados, principalmente da Bahia. As acusações apontam diversos constrangimentos impostos aos operários, desde a exploração financeira e até maus tratos pessoais. A situação chegou ao conhecimento das autoridades a partir da fuga dos alojamentos onde os contratados eram mantidos para jornadas nas vinícolas. A referência de tratamento análogo ou semelhante ao regime escravista decorre das formas de opressão na utilização da mão de obra com ofensa à dignidade humana. As circunstâncias da terceirização extorsiva da força de trabalho visavam prioritariamente o lucro dos empregadores que agiam de forma desenfreada. A investigação dos casos de situação análoga à escravidão mostra escandaloso desrespeito humano.

 

Surto de xenofobia

Não bastasse o constrangimento à sociedade civil gaúcha pelo ocorrido em desequilíbrio à correlação de forças entre capital e trabalho eclodiu a manifestação na tribuna da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul do vereador Sandro Fantinel. Já foi expulso do partido Patriota. O edil parece ser representante político respeitável, respaldado pelo voto popular. Sem alvitrar juízo condenatório ao representante popular como pessoa, apresenta-nos inevitável a repugnância à sua atitude como agente público. O uso da palavra na tribuna foi exaltação à xenofobia. Significa a aversão ao povo de outras localidades. Com falsos argumentos verberou coisas terríveis de perversa conotação ao povo baiano. Num momento de fortes denúncias de tratamento desumano ao trabalhador explorado, o vereador imprimiu estridente opinião contra as vítimas de injustiça. De algum modo sua versão pretendeu construir argumento à discriminação. Acrescentou chibatadas ao abatimento de trabalhadores que deixaram suas famílias em busca de oportunidade digna de sobrevivência. Tripudiou com moralismo espúrio sobre a origem humilde daquela gente. Preferiu usar prerrogativas de opinião para diminuir massacrados. A esdrúxula argumentação do frenético tribuno, não satisfeito com o ultraje aos baianos, população de maioria negra, resolveu expressar pensamento xenomaníaco. Mencionou o que seria laureada contratação de argentinos, supostamente brancos e mais afeitos ao trabalho. Em suma, o conselho e esforço pessoal do infeliz orador é pela contratação de argentinos, que entende ser mais lucrativa. Não ponderou nada em relação ao tratamento dispensado aos contratados brasileiros, vítimas de maus tratos.

 

Soberba

A pose de falso moralista reproduz acepção social que não é solitária. A herança dos séculos de escravidão volta e meia exibe sua perversidade, insistindo em lembrar que a camada social economicamente dominante é superior. As demais categorias devem permanecer na posição de subordinados ou dominados, segundo esse pensamento. É a prepotência cega que se manifesta com alguma frequência nas relações sociais.

 

Desculpas

Aconteceu também brusca mudança de atitude do vereador. O discurso sem compaixão que desprezou o sofrimento alheio dos deprimidos pela injusta relação de trabalho, esboroou-se. Sua intervenção de flagrante depreciação à causa dos desfavorecidos foi chocante para sua própria consciência. Ao que tudo indica, percebeu o conteúdo odioso de sua narrativa e fez sua contrição pública com o semblante e a voz em visível abatimento de consciência em tom grave. A advertência veio na cobrança que afetou familiares, injustamente rejeitados no convívio escolar. Telefonemas anônimos à sua residência, xingamentos de ódio, enfim, acontecimentos que o ódio verbalizado instiga em ações também odiosas. A responsabilidade administrativa, legal e ética pela desarvorada manifestação do vereador, certamente se dará. É preciso dizer, no entanto, que o gesto de arrependimento do vereador impressiona muito. 

 

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