OPINIÃO

Teclando - 08/03/2023

O contagioso orgulho coletivo

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O contagioso orgulho coletivo

Vivemos, sim, num local privilegiado e diferente. Pelo aguadeiro, aqui consagrado como ‘aguadero’, passaram muitas vidas. A mesma água que saciou a sede também irrigou um bucólico vilarejo que cresceu, cresceu e se transformou numa região metropolitana. Com muito orgulho, até dizemos que não faltam peculiaridades para diferenciar Passo Fundo do resto do mundo. Por aqui o concreto sobe com facilidade e os aviões descem com dificuldade. Para os passo-fundenses a Independência é a Rua do Boka e o Boqueirão uma fábrica de nuvens. Canhão foi o Bebeto e Muralha o Daizon. Embrapa, plantio direto, trigo e soja são expressões que provocam vibrato nas cordas vocais. Geograficamente, a região se divide entre antes e depois do Panorâmico. Não faltam simbologias na paisagem urbana, da histórica chaminé da Brahma à solidão da insólita caravela na entrada da cidade. Pôr do sol é o do Quintino e a melhor perspectiva do planeta é vista desde o Sétimo Céu.

Há, é claro, alguns superlativos como Farmácias São João, CTGs, sinaleiras e outros mil. Por aqui, quem não está no Bella foi ao Bourbon ou irá ao Passo Fundo Shopping. Sem as Jornadas Literárias não haveria letras no mundo e sem o Festival de Folclore a Terra não dançaria. Alguns, despidos de qualquer modéstia, acreditam que o Oásis seria o centro do Universo e a Praça Marechal Floriano o Jardim do Éden. Há, porém, dois temas sobre os quais incautos forasteiros devem pisar sobre ovos: saúde e educação. Qualquer suspiro, olhar duvidoso ou mesmo um pensamento de desdenha sobre essas áreas podem gerar uma faísca. E, então, o bochincho está feito! É óbvio que por aqui não existe bairrismo. Jamais. Até porque isso seria conduta para uma cidade pequena. Diferentes, temos apenas a superficial e leve imodéstia que gerou uma forma inusitada de vaidade coletiva. Não é soberba. Aqui vivemos uma endemia que se propaga através de todas as formas de convivência. Provoca uma febre suave e aconchegante, é altamente contagiosa e incurável. Porém, benigna. 

A turma do barulho I

Gente barulhenta é o que não falta por essas bandas do Planalto Médio. Hoje, podemos dividir os barulhentos entre fixos e móveis. Os fixos são daquelas lojinhas que, mesmo de forma ilegal, insistem em utilizar alto-falantes nas portas dos estabelecimentos. Batem os fiscais e eles param. Aos sábados, quando não há fiscalização, detonam o som novamente. Ora, se sabem que é errado, isso é uma confissão de culpa. Imaginem se em cada porta houvesse uma caixa de som? Incômodo para quem passa pela calçada, transita nas ruas, vizinhos e para o próprio comércio. Um som persistente que, acredito eu, tem características de insalubre para quem trabalha no estabelecimento e nas proximidades.

A turma do barulho II

Já os barulhentos móveis se dividem entre profissionais e amadores. Os profissionais são os carros de alto-falantes locais e visitantes (circos e parques). Já os amadores são os que mais danificam a audição alheia e atuam diariamente por 24 horas. Alguns utilizam sistema de som que propaga uma barulheira distorcida e irritante. Geralmente é um veículo caindo aos pedaços, com um idiota ao volante e muita potência em decibéis. Outros, não menos idiotas, circulam com motos e caminhonetes com descarga aberta. Esses, pelo que observo, têm o corpo fechado para multas. São muitos e, contam com muita sorte, pois nunca enroscam na fiscalização de trânsito. Mesmo com o barulho que fazem, parecem invisíveis. Nem a ciência explica.

Balão 

Depois de os mísseis derrubarem muitos balões no Hemisfério Norte, os balões estão voando baixo. E Passo Fundo, obviamente, também tem o seu digno representante nesta categoria de aeróstatos. Na década de 1970, enquanto em outras áreas os barrancos anunciavam que a cidade tinha Mu-Mu, aqui estava pichado “Passo Fundo tem Balão”. Sim, é o nosso amigo Carlos Martins, mas que a etiqueta exige o tratamento de Charles Martin. Diante do propalado balonicídio, ele sumiu por uns tempos e ficou hangarado. Ressurgiu na segunda-feira. “Estava no Litoral Norte, elegantemente”, contou à turma da Mesa Um. Medo de ser abatido? “Pero que si, pero que no...” 

Tristeza

Fico triste quando vejo a subserviência estender o tapete da bondade para os alienígenas. Mais triste ainda, fico quando os forasteiros carregam os nossos patacões.

Trilha sonora

Rita Lee – Amor e Sexo


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