OPINIÃO

O futuro do trigo no Brasil

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Não importa qual a razão que tenha sido determinante – o contexto geopolítico mundial, pelo conflito entre Rússia e Ucrânia, e suas consequências econômicas e logísticas sobre o mercado do trigo no mundo; a estiagem que afetou os cultivos de verão no sul do Brasil e aguçou nos produtores rurais a necessidade criar alternativas de geração de renda além da soja/milho; a menor oferta desse cereal pela Argentina; as demandas postas pelas cadeias de produção de proteína animal e as vislumbradas para o atendimento das novas plantas de bioetanol ou mesmo as condições climáticas favoráveis das duas últimas safras –, o fato é, que o Brasil, e especialmente o Rio Grande do Sul, nunca produziu tanto trigo quanto em 2022. Mas, e agora? Essa tendência altista de produção de trigo no País tem sustentação? Quais são os fundamentos desse otimismo de ocasião? Que precisamos fazer, efetivamente, para que o Brasil ocupe com o trigo as mesmas posições de destaque que goza, produção e exportação, com as outras culturas do negócio agrícola mundial?

Segundo o Boletim da Safra de Grãos da Conab (9 de março de 2023), o Brasil, em 2022, cultivou 3,086 milhões de hectares e produziu 10,554 milhões de toneladas de grãos de trigo. O Rio Grande do Sul foi o maior produtor:1,455 milhões de hectares cultivadas, rendimento médio de 3.941 kg/ha e produção de 5,733 milhões de toneladas de grãos (54% da produção nacional). Um pouco mais além das estatísticas oficiais, o mercado trabalha com números maiores, algo em torno de 6 milhões de toneladas, no RS, e superando as 11 milhões de toneladas no Brasil. Então, o otimismo não parece descabido, pois, para um país que, historicamente, foi importador de trigo, produzir 85% do consumo projetado (12,394 milhões de toneladas) é um feito notável. Não obstante, pelas estimativas da Conab, ainda devemos importar, até julho de 2023, 5,600 milhões de toneladas de trigo. Não há nenhum mal em importar trigo, até porque boa parte desse cereal produzido no Brasil foi e deverá continuar sendo exportado. E esse, nos parece, é o aspecto mais relevante: o inicio da configuração do Brasil como um país produtor e exportador de trigo. Também, produzir mais trigo do que a quantidade que é consumida internamente, deve ser meta alcançável a curto prazo. As nações que dominam o mercado mundial de trigo são autossuficientes na produção desse cereal.

Algumas coisas merecem ser destacadas, nesse novo momento de impulso da triticultura brasileira e, em especial, gaúcha. Poderíamos começar pela percepção de que a estação do inverno precisa ser melhor explorada com cultivos rentáveis, entre os quais, destaca-se o trigo. Deixar a retórica da intensificação da agricultura de lado e pô-la na prática, usando os nossos solos, uma vez que a oferta ambiental permite, nos 365 dias do ano. Ter a clareza que o trigo, bem como os demais cereais de inverno, deve ser visto como uma espécie que pode ser cultivada com múltiplos propósitos. Sim, produzir trigo para o consumo humano, lado mais conhecido, seria o principal alvo, tanto interno quanto externo. Mas, não se pode ignorar que, também, trigo pode ser cultivado com finalidade forrageira, quer seja pastejado diretamente pelos animais ou para produção de pressecado e silagem ou uso dos grãos em formulações de ração, além do destino para fabricação de bioetanol.

A receita para o Brasil produzir trigo, de maneira competividade e sustentável, seja para o mercado interno ou externo, é muito simples, embora não signifique que seja fácil de aplicar: originar trigo com padrão de qualidade e a preços competitivos no mercado internacional (o preço interno é formado a partir do exterior), criando uma identidade para o trigo brasileiro.

Em 2023, mesmo que analistas de mercado sinalizem tendência baixista de preços e maiores colheitas de trigo no Hemisfério Norte, cenário que pode ser alterado pelo clima ou pelo fechamento do Mar Negro, em função da guerra entre Rússia e Ucrânia, os humores no meio produtivo gaúcho são auspiciosos. A quebra nas lavouras de milho e a melhoria das relações de troca por fertilizantes, além do retorno financeiro obtido com esse cereal, nas duas últimas safras, indicam aumento de área cultivada de trigo. Oxalá não seja um espasmo!

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