A arte musical brasileira sacralizou a cultura do trigo, na música Cio da Terra. A canção de Pena Branca, Xavantinho e Renato Teixeira tem a interpretação que alcançou enorme sucesso na voz única de Milton Nascimento. É a expressão de elevada concepção do corpo e da alma na sobrevivência humana. Terra, água, frio e calor, a raiz perene na simbiose desde o nascimento de todos nós. Nutrição. Da nossa geração, com idade entre 70 e 80 anos, que teve relação com a vida do campo, certamente é marcante a memória da colheita do trigo. Poetas gaúchos descreveram com ardor e sentimento fecundo o cenário do “verde mar” e “louros trigais”. A história da humanidade registra o cereal de cultivo milenar como a grande riqueza da África, às margens do rio Nilo. Nunca esqueci uma colheita do trigo de meu pai, em Santa Cecília, nos rumos do Picadão. De tanto insistir, levaram-me junto, sabendo que era só pra incomodar. Tinha cinco anos, mas tomei uma foicinha e colhi meu primeiro feixe do trigo. Na segunda investida cortei o dedo. Amarraram um pano no ferimento, mas não perdi a pose. Fiquei ali como se estivesse ajudando, sem incomodar a tarefa. Voltei a exibir valentia, no almoço: polenta, queijo, pescada e café em litros tampados com sabugo. Voltamos à tardinha, no Chevrolet – 28. O dedo latejava e não me queixava de nada. Antes, pelo contrário, me sentia triunfante por ter colhido meia dúzia de espigas cheias de grãos que enchiam a carroça. Depois, fornadas de pão com o doce zelo de minha mãe. Ela partia o pão ainda quente e entregava um pedaço. Ela sorria suavemente quando o filho voluntarioso soprava o pão para esfriar um pouco. No final da década de 50, em 1957, o prefeito Wolmar Salton promoveu a colheita do trigo num canteiro da avenida. Cena de feliz memória. Teixeirinha cantou Passo Fundo como terra do trigo, para orgulho geral.
Soberania da soja
Nos anos 70 a cultura da soja prenunciava hegemonia no investimento das lavouras. As colinas de nossa região eram cobertas por nova riqueza. A soja despontou como a grande opção que se consolidou no agronegócio. Quanto ao trigo, a visão de menor rentabilidade gerou etapa de certa melancolia. A pesquisa e extensão evoluíram na Embrapa e da UPF, e sugeriam melhorias na triticultura. As coisas prosperaram e, aos poucos a tecnologia enseja retorno do trigo.
Gilberto Cunha
O cientista e escritor Gilberto Cunha escreveu na sua recente participação em ON, dia 9, artigo sobre o Futuro do Trigo no Brasil. Recomendamos com ênfase a leitura da informação e conceitos sobre a triticultura. A região de Passo Fundo ainda é forte produtora deste nobre cereal. O mestre Cunha resume informação e abalizada previsão sobre a cultura. Na concisão terminológica oferece uma síntese de valor incontestável ao segmento que parecia meio esquecido no contexto alimentar de produção. A apreciação de forma leve, sem delírios, mostra promissora opção. No nosso entender dá alento à história de inquestionável afeto com o trigo, o nosso trigo.
Joias
Michelle Bolsonaro, mencionada no escândalo das joias valiosas sob embargo alfandegário afirma com todas as letras que não sabia de nada. A fortuna que quase chegou a seu pescoço aperta a garganta do Jair. Mesmo que não surgissem novas surpresas, com doações fantásticas, é muito dinheiro! No Império Romano, surgiu expressão muito curiosa e intrigante: “Margueritas ad porculam” (pérolas aos porcos).
Fome
A CNBB desenvolve a campanha da Fraternidade e Fome. A orientação diz respeito a envolvimento, amplo, ou total da comunidade. O endividamento da população, inclusive assalariada, pressiona o orçamento familiar. Para a classe remediada está difícil a provisão de alimento e o segmento de pobreza vive o tormento. Pedir paciência a esta multidão faminta, não cabe. Fome requer resposta urgente.