OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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A semana foi marcada pelo encontro entre Xi Jinping e Putin, em Moscou. Trata-se da primeira viagem internacional do líder chinês desde o advento da pandemia e ela carrega simbolismos importantes. Antes mesmo da invasão ilegal da Rússia na Ucrânia, Pequim e Moscou selavam uma “parceria sem limites”, que agora se consubstancia com a visita. O encontro ocorre após a mediação chinesa no restabelecimento das relações entre o Irã e a Arábia Saudita, rompidas desde 2016. Para Moscou, Xi levou o “plano de paz” para a guerra na Ucrânia, querendo chancelar-se como o grande pacificador global, após mais de um ano de guerra. Parece haver uma vontade de reabilitar a imagem mundial da China, após a dura mancha do Covid. No encontro, os líderes falaram da importância da “defesa do direito internacional”, como se obedecessem às regras internacionais, uma verdadeira ironia. De um lado temos um líder chinês que omitiu informações prioritárias na emergência de uma crise sanitária global, agindo contrariamente às normas internacionais. Do outro, temos um criminoso de guerra. Logo, não é possível imaginar a que tipo de direito internacional se referem.

 

O “Plano de Paz” 

Pequim precisou esperar mais de um ano decorrido da guerra, para apresentar o seu plano de paz. Todavia, a espera não foi apenas dos chineses, uma vez que as potências ocidentais também não apresentaram planos concretos, abrindo espaço para que Xi pudesse reposicionar a China globalmente. Uma curiosidade, o plano ressalta a importância da “defesa da soberania” dos países estrangeiros. Putin, com a sua guerra, passou por cima da soberania ucraniana. Já a China, defende a soberania alheia, mas sobrevoa o espaço aéreo de Taiwan, em nítida ameaça à soberania da ilha. Para que um plano de paz seja sério, ele deve conter o compromisso com um cessar-fogo imediato, bem como a retirada das tropas russas do território, em sua totalidade. Infelizmente, esses dispositivos não estavam presentes no plano de Pequim e, mesmo assim, parece que Putin não se agradou com a proposta.

 

Um novo posicionamento 

A pergunta que surge, com o posicionamento tanto da China quanto da Rússia, é se existe alguma possibilidade de uma nova ordem mundial não baseada no plano ocidental, mas pelos aludidos projetos de poder. Há muito caminho para uma ordem mundial se formar, assim como vimos no Séc. XX. O fato é que o Ocidente vem cedendo espaço para a ascensão de projetos autocráticos. A aventura de Putin só prosseguiu pela certeza de Moscou de que não haveria uma resposta militar direta a partir das potências ocidentais, se não, apenas as sanções e ajudas militares à Ucrânia. Com a mediação do acordo entre Irã e Arábia Saudita, a China tenta se projetar como um pólo de poder, capaz de mediar a paz, globalmente. Muito dependerá se Pequim vai enviar à Rússia armas letais, o que modificaria bruscamente o campo de batalha e a posição ocidental. Para que uma nova ordem mundial se firme, são necessárias evidências concretas e a única que temos neste momento é a de um mundo caótico, regido pela anarquia internacional, onde o sistema multilateral praticamente faliu e as verdadeiras lideranças se dissiparam, dando abertura para as novas concepções e, no meio delas, a crítica ao declínio ocidental tem sido a tônica.

 

 

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