O elogio público, panegírico, à memoria do acadêmico Getulio Vargas Zauza (28/12/1929 - 21/11/2022), ocorre hoje (24), às 19h, quando o velho casarão da Av. Brasil Oeste, 792, vai abrir aquela que já foi rotulada de a porta mais alta do Brasil (Correio do Povo, 6 de março de 1977), para a Sessão Solene de Abertura do Ano Acadêmico 2023. A programação inclui, também, a investidura e posse dos novos acadêmicos (Alexandre da Rosa Vieira, Alex Antônio Vanin, Janaína Rigo Santin, Luiz Carlso Dale Nogari dos Santos, Marco Antônio Bomfoco de Almeida e Nei Alberto Pies) e a entrega da Comenda do Mérito Cultural Sante Uberto Barbieri 2023 ao Prof. Ironi Gozzi de Andrade.
A honraria de proferir a oração de louvor à memória de Getulio Vargas Zauza coube a este colunista. Algo que, aparentemente, é simples, mas, ao mesmo tempo, que não se ignore, de complexidade elevada. Resumir, em 10 minutos, a vida de alguém de tamanha luz, vai exigir um esforço hercúleo. São muitos aqueles que, ainda em vida, se debruçaram a ditar testamentos, mas, são raros os que, pressentindo a chegada da derradeira hora, conseguiram ter a serenidade para expressar a sua vontade para o momento final. Getulio Vargas Zauza faz parte das exceções. Alguns dias antes de morrer, deixou, sob guarda da esposa Aiesa Magáli Zauza, uma mensagem de despedida, que, se não serve de consolo, pelo menos expressa a dimensão do ser humano que ele era. Eis a mensagem que nos legou Zauza: “Sigo agora minha senda/ Para qual caminhada,/ Dia por dia me preparei./ Removi de meus olhos a venda/ Que impedia ver a luz.// Aqui estou, aqui cheguei./ Em Espírito me recomendo,/ Ao afastar-me da Terra-Vida./ Às hierarquias celestiais/ Rogo boa acolhida/ E que no Eter-Mundo/ Guie-me Michael/ Ao encontro com Christus-Jesus.”
Zauza, nas muitas conversações que tive o privilégio de ter com ele, sempre se declarou admirador do antroposofista croata Rudolf Steiner (1861-1925). Então, não seria descabido, que fosse de Steiner, o poema escolhido por ele, Meditação para os Mortos, para as suas exéquias: “Meu amor seja aos envólucros/ Que agora te circundam/ Sacrificantemente entecido/ Todo calor arrefecido/ Toda friagem aquentada/ Viva de amor portado,/ De luz dadivado/ Para o Alto”.
Esse era Zauza! O doutor, para muitos pacientes, da última esperança. Nos seus 44 anos de dedicação à psicologia clínica (10 anos em Porto Alegre e os últimos 34 anos em Passo Fundo) teve mais de mil pacientes sob tratamento ministrado por ele. E, para a sua felicidade, boa parte desses que se trataram com ele encontrou o alento que buscava.
Zauza integrou a Academia Passo-Fundense de Letras. Escreveu cinco livros, além de artigos e poemas dispersos. Foram três livros de poemas (Cânticos do amor à vida; Divã, Lagrimas e Libertação; e Solidão e Dor) e dois sobre os seus métodos de trabalho: Energia Psíquica e Psicoterapia Objetiva, 2009, e Método de Estudo, 2013. Mas, especialmente, dedicou-se ao exercício da psicologia clínica, mantendo consultório voltado a cuidar de pacientes adultos, ao longo de 34 anos. E foi na poesia que Zauza encontrou o melhor caminho para transformar em arte as horas infindáveis de dor, sofrimento, angustias, lágrimas e esperanças vivenciadas pelos pacientes e co-espervividas objetivamente por ele no seu papel de terapeuta. Em versos quase confessionais, Zauza assim se expressou: “Aprendi a silenciar / Vivendo no silêncio da fundura / Ou ouvindo o estertor da alma / que se agita / E se afoga em ansiedade / Ou angústias infinitas. / Aprendi a silenciar, / Na aparência ficar inerme, quedo / Ante a alma que se tortura / E freme e gela de pânico-medo. / E silenciei-me por inteiro, / Mergulhei meu coração na calma. / Então aprendi a ouvir / E falar de alma para alma”.
A sua obra mais robusta, e a que mais me atrai, é “Energia Psíquica e Psicoterapia Objetiva”, que sintetiza o método que ele pôs em pratica ao longo de 44 anos, cuja epígrafe, da lavra dele, diz tudo “A verdadeira psicoterapia conduz, / Da Verdade, à Divina Luz, / Que cura a Alma / E liberta-a da teia das ilusões”.
Getulio Vargas Zauza é hoje uma luz a guiar seus ex-pacientes, os amigos, a esposa Aiesa Magáli Zauza e o filho Daniel Zauza. Nossos respeitos à memória do Dr. Zauza!
SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon:
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