OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Cezar Roedel

Consultor de Relações Internacionais

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Enquanto esta coluna é fechada (dia 12/04), Lula aterrissa em Xangai, com cerca de 40 autoridades públicas. A impressão é a de que a comitiva parece mais uma excursão, do que uma visita de Chefe de Estado, que costumam ser pequenas. O momento é de escalada de tensões entre China, Taiwan e EUA, requerendo atenção. A expectativa do governo é a de assinar cerca de 20 acordos internacionais. O primeiro deles, no entanto, chamou a atenção. Trata-se de um acordo entre o governo brasileiro com o conglomerado estatal da imprensa chinesa. Em um país onde não há liberdade de imprensa, causa estranheza o interesse do governo, que visa, inclusive, o intercâmbio de profissionais chineses. Cabe lembrar que a China possui um dos maiores serviços de inteligência do mundo. Logo, a abordagem do governo brasileiro deveria ser mais cautelosa. Outra expectativa de Lula é a de que possa ser um mediador do conflito na Ucrânia. Nem a China, “parceira sem limites” da Rússia, conseguiu emplacar o seu plano de paz. O governo brasileiro deverá ter muita cautela, em todos os sentidos. A China é sim o principal parceiro econômico do Brasil, portanto, uma abordagem mais pragmática seria o mais recomendado, principalmente em uma política internacional conturbada, com tensões em alta entre Pequim e Washington, o segundo maior parceiro comercial do país. A China certamente vai aproveitar o vácuo deixado pelos EUA, sendo o Brasil, um parceiro estratégico na América Latina.

 

Projetos em conflito 

A tensão entre os EUA e a China tem como fundo, também, a contrariedade de seus projetos com o mundo. A China conseguiu estruturar um programa de projeção internacional robusto, denominado de “Belt and Road Initiative” (Iniciativa do Cinturão e Rota), que coordena projetos bilionários de infraestrutura pela Ásia, África, Europa e América Latina e Central. Para a China, o Brasil é um parceiro-chave para a iniciativa. Do outro lado, os EUA não conseguiram, ainda, estruturar um projeto similar, capaz de aglutinar aliados. O governo Biden busca estruturar o programa “Build Back Better World” (Reconstruir um Mundo Melhor), lançado em reunião do G7, em oposição ao projeto chinês. Todavia, o projeto ainda não saiu do papel, enquanto a China avança. A pequena importância que Biden deu à visita de Lula, já demonstra que o projeto não parece ser hábil em atrair aliados. Espera-se, por outro lado, que o governo brasileiro não se jogue inteiramente ao encanto chinês, enquanto a conjuntura internacional demanda cautela. Será necessário que o intento do governo não descambe em bajulação indevida. A diplomacia requer um olhar estratégico. Lula busca ser um mediador do conflito ucraniano e, neste momento, seria uma mera aventura. Há de se esperar sobre quais acordos serão assinados e qual o resultado concreto que promovem. A tensão entre China e Taiwan também é um desafio à diplomacia brasileira, que reconhece o princípio de “Uma Só China”. Neste momento, ocorrem os exercícios militares dos EUA com as Filipinas, que visam eventual contenção do apetite chinês, no Mar do Sul da China. A matéria requer cautela por parte do governo, ainda mais se considerarmos o improviso comum de Lula. 


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