OPINIÃO

El Niño vem ou não vem?

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E lá se vão 10 meses (desde julho de 2022) que as chuvas estão abaixo do padrão normal do clima em Passo Fundo. O fim de La Niña foi anunciado, com ares de pompas e circunstâncias, pelo Climate Prediction Center/NCEP/NWS, dos EUA, em 9 de março de 2023; e, passado pouco mais de um mês, a mesma instituição, no boletim de 13 de abril de 2023, divulgou alerta de El Niño, com probabilidade de 62% de desenvolvimento do fenômeno ao longo do trimestre maio a julho. Isso posto, cabem indagações tipo: El Niño vem ou não vem em 2023? Qual o impacto que pode trazer no clima do Sul do Brasil? Podemos e devemos fazer alguma coisa, especialmente em agricultura e em defesa civil?

Há que saber diferenciar, nos boletins do Climate Prediction Center/NCEP/NWS, o que, efetivamente, significam as expressões El Niño Watch (estado de vigilância, de atenção, de observação, de alerta) e El Niño Advisory (estado de advertência, de orientação, uma vez considerado estabelecido o fenômeno). No primeiro caso, que reflete a situação do último boletim, indica um estado de atenção, de alerta para uma possibilidade que, pelos indicativos, especialmente oceânicos (temperatura da superfície das águas do Oceano Pacifico tropical), se avizinha. E, no segundo, uma orientação (advisory) de que o fenômeno ENOS (seja El Niño ou La Niña), efetivamente, está consolidado. Por ora, El Niño, mesmo que os indicativos (e as previsões) pareçam robustos, ainda é uma possibilidade e não um fato concreto, em 2023.

Não obstante as dúvidas postas, nos sobram motivos, admitamos, pois, de que as certezas, hoje, parecem ser maiores do que as incertezas, para que, quando necessário, estejamos preparados para esperar El Niño. E que isso significa? Pelo menos saber lidar nos planos estratégico, de maneira proativa, ou tático, reativamente, com o que se pode antever em termos de anomalias climáticas extremas, regionais, nos anos que atuam El Niño ou La Niña.

Há um paradoxo, sobre isso, que precisa ser combatido e superado. Insistem alguns que, independentemente dos avanços no conhecimento sobre previsibilidade e avaliação de impactos do fenômeno El Niño – Oscilação Sul (ENOS), os prejuízos aventados como causados por esse fenômeno, nos casos extremos, ou, efetivamente, não acontecem ou, em algumas situações, não denotam terem sido arrefecidos pelas medidas tomadas.

Usar o que sabemos e o que sabemos que NÃO sabemos, eis a receita. Mas, esse estar prontos para esperar El Niño ou La Niña, não importa o setor da sociedade, ainda é um conceito difuso, marcado por níveis de maturidade (prontidão) diferentes, que fazem com que, quase sempre, o pior não seja evitado, nem o melhor, o lado positivo desses eventos, seja bem explorado. Não nos cabe, evidentemente, é alegar surpresas com El Niño ou La Niña. São bem conhecidos (e noticiados), em diversas partes do mundo, os impactos negativos, que, quase sempre, despertam maior interesse na sociedade, envolvendo secas/estiagens severas, alagamentos, incêndios florestais, insegurança alimentar, irrupção de epidemias de doenças infeciosas etc. O lado bom desses fenômenos, que também existe, quase sempre, é deixado em segundo plano.

Efetivamente, somos sabedores que, no sul do Brasil, chove mais em anos de El Nino, e, mesmo não sendo imagens especulares, chove menos em anos de La Niña. O que não nos cabe, depois de tantos anos de convivência, é alegar surpresa. Ou seja, a preocupação com estiagens deve ser redobrada, em anos de La Niña, e, com inundações, em anos de El Niño. Ou que, na agricultura, os anos de La Niña são excelentes para a produção de trigo, e, os de El Niño, para a produção de soja. Mas não basta olhar para trás, pois, dois El Niños ou duas La Niñas, nunca são iguais, embora, cada qual, com suas peculiaridades, acabem ditando rumos no clima global.

Indiscutivelmente, há incertezas quando, efetivamente, começa e quando termina um episódio ENOS, seja um El Niño ou uma La Niña. Embora se saiba que, uma vez iniciados, permanecerão ativos por meses ou até anos. Além de não se admitir ignorar que os impactos sociais e econômicos associados podem perdurar por meses/anos depois de finalizado um evento.

Nem todos conseguem entender que prever El Niño/La Niña emergente não é a mesma coisa que definir El Niño/La Niña ativo. O Climate Prediction Center/NCEP/NWS fundamenta suas análises num Indice Oceânico (ONI), monitorado na região do Pacífico chamada de Niño 3.4 (5ºN - 5ºS e 120º - 170º W), colocando o rótulo Watch, quando há uma condição favorável para o desenvolvimento de El Niño/La Niña nos próximos seis meses. E Advisory para indicar que as condições de El Niño/La Niña são observadas e espera-se que continuem presentes, podendo, potencialmente, afetar as regiões sensíveis.

O momento, pois, é de atenção com o clima no sul do Brasil, em 2023.

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