Do anúncio da morte e da ressurreição de Jesus Cristo nascem as comunidades cristãs. É o tema que a liturgia do quinto domingo da Páscoa se concentra. O livro de Atos dos Apóstolos (6,1-7) relata o aumento dos discípulos na comunidade, os problemas que foram surgindo e as medidas tomadas para que ela não perdesse o foco e o vigor. A 1ª Carta de São Pedro (2,4-9) ensina que a comunidade está fundada sobre a “pedra viva” que é Cristo e consequentemente todos os membros são “pedras vivas”, no “edifício espiritual”. No santo Evangelho segundo São João (14,1-12) Jesus ensina que os discípulos vão peregrinar neste mundo por meio dele, porque Ele “é o caminho, a verdade e a vida”.
No Tempo Pascal a liturgia da Igreja nos proporciona voltar às primeiras comunidades cristãs, principalmente através dos Atos dos Apóstolos. A descrição feita por São Lucas aponta os grandes ideais dos primeiros seguidores, os sentimentos de corresponsabilidade, o vigor missionário, uma Igreja que rezava em todas as circunstâncias, entre outros elementos. Ao mesmo tempo, Lucas não silencia sobre as situações problemáticas que foram se desenvolvendo no interior das comunidades. Problemas que foram enfrentados e solucionados de vários formas. Isto revela que as primeiras comunidades cristãs tinham consciência da necessidade constante de conversão, pois eram uma Igreja santa e pecadora. Os problemas deviriam ser resolvidos sob a ação do Espírito Santo. O texto bíblico deste domingo de Atos é inspirador para a missão evangelizadora no tempo presente. Assumir os problemas existentes torna-se ocasião de fortalecer a missão e a unidade.
As comunidades cristãs não se fundam na eficácia administrativa como acontece nas organizações da sociedade civil e nas empresas. São Pedro recorda que a comunidade cristã forma um “edifício espiritual, um sacerdócio santo para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo”. Os membros deste povo não são um número estatístico, mas “pedras vivas” do edifício espiritual. Caminham por terem acolhido a Palavra.
Jesus está preparando a sua partida e o futuro de seus discípulos sem a sua presença física. O fato vai gerar perturbação, mas não pode resultar em dispersão e nem em término de tudo que Jesus tinha começado. As perguntas de Tomé e Filipe são providenciais para dirimir dúvidas existentes. A dúvida de Tomé sobre o caminho e o seu ponto de chegada, Jesus responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Cristo é o caminho que conduz ao Pai. A verdade está no caminhar com Jesus, que é a Verdade e a Vida. Com Ele, não caminhamos na direção da verdade, mas na verdade. Com Jesus não andamos em direção da vida, mas na vida. Ele é o caminho comprovado que leva a salvação, a alegria profunda e a realização da meta definitiva que é encontrar o Pai.
Filipe deseja ver o Pai. Jesus responde: “Quem me viu, viu o Pai”. O desejo de Filipe revela o desejo de toda a humanidade de ver com olhos humanos a Deus. O Antigo Testamento dizia que era impossível ver a Deus e quem o visse morreria. Em Cristo, o Deus invisível fica visível e plenamente acessível. Deus mostra o seu rosto. Com isto Jesus revela a intimidade que tinha com o Pai e por isso era o único caminho para chegar a Ele.
Jesus propõe um projeto ao peregrino de hoje que procura um sentido para a vida. Ele oferece a comunhão com Deus como a meta do caminho e a fé como via para alcançá-la. Quem procura tem necessidade de uma via e de um lugar de chegada para encontrar-se com alguém, porque caminhar é ir ao encontro.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo