Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
No exato dia em que esta coluna é redigida (03/05), observa-se pequena explosão bem acima da residência do Kremlin. Teorias começam a emergir. Moscou afirma ter sido um drone ucraniano, pronto para assassinar Putin, alguns dias antes do Desfile da Vitória, evento importante aos russos. Na imagem, também fica perceptível dois homens escalando os telhados do Kremlin, no exato momento em que há o ataque do drone. O roteiro parece (e provavelmente é) pura desinformação soviética. Do ponto de vista lógico, para a Ucrânia, não faria qualquer sentido o tipo da ação, uma vez que os seus esforços estão concentrados no campo de batalha nos territórios do país, não fazendo sentido qualquer provocação no espaço aéreo russo, ainda mais, no Kremlin! Putin é mestre na desinformação. Mas dessa vez, o roteiro parece ser insuficiente. A explosão não foi eficaz nem para destruir a bandeira russa, que tremulava no topo do prédio, enquanto homens misteriosos subiam ao telhado. Todavia, pode tornar-se motivo para uma nova escalada no conflito, tudo o que a Rússia necessita, principalmente pela anunciada possibilidade de contraofensiva ucraniana. A reação de Moscou é incerta e, por isso, potencialmente perigosa. A contraofensiva ucraniana vem em momento de alerta para os russos, uma vez que o ministro de defesa, Serguei Shoigu, solicita urgentemente a produção célere de mais mísseis, como um sinal de esgotamento de arsenal.
Contraofensiva
Zelensky afirma que se aproxima uma contraofensiva, no campo de batalha restrito aos seus territórios, provavelmente ao sul do país. Incerta ainda em seu início, se nos próximos dias ou semanas. Imagens de satélites já dão conta de que os russos se preparam, com barreiras e trincheiras, que dificultarão a passagem ucraniana. As defesas começaram ainda no ano passado, com a retirada dos russos da região de Kherson. A OTAN afirma que cerca de 98% dos veículos militares prometidos à Kiev já estão de posse dos ucranianos. Será necessária uma inteligente estratégia e, principalmente, tática por parte dos ucranianos, em um momento que pode ser decisivo, para minar a frente russa. De igual modo, caberá aos russos a tentativa de um contra-ataque rápido, o que será difícil com as perdas de seus militares durante o conflito, ainda mais se o cenário de escassez de armamentos se confirmar.
Improvável mediação da paz
Os sinais são todos contrários a qualquer possibilidade de curto prazo no caminho à paz. A China não reúne características essenciais para mediar a paz. Torna-se necessário ao processo: 1) o consentimento das duas partes beligerantes sobre quem irá mediar a paz; 2) a necessária imparcialidade, rompida pela “parceria sem limites” de Pequim com Moscou, inclusive com o provável apoio militar; 3) respeito aos dispositivos do Direito Internacional Público, o que a China não observa, desde a postergação no anúncio de uma emergência sanitária global; 4) o reconhecimento da ilegitimidade da guerra, o que a China não irá declarar, buscando posição de “dubiedade estratégica”; e 5) a reparação de tudo o que fora demovido pelos russos durante o conflito, bem como futuros julgamentos de crimes de guerra cometidos, já havendo a posição do Tribunal Penal Internacional. A contraofensiva se afasta de um caminho à paz, ficando cada vez mais remota a mediação chinesa.