Espelho meu, espelho teu
A vida pública segue em ritmo de crítica comparativa. Para ser mais objetivo, diria que isso significa um estar de olho no rabo do outro. São olhares recíprocos que não enxergam as virtudes e ampliam os defeitos. Vivem a máxima de que se houver alguém pior do que eu, então eu seria ótimo. A tentativa de argumentação política anda nos trilhos de dois inseparáveis ferros paralelos. Estão lado a lado e, então, seguem espelhados trocando faíscas. O problema é que isso, além de falta de argumentação, virou uma chatice nauseante. Ora, parece coisa de piá bobo discutindo sobre a sujeira das suas unhas, quando uma desculpa a do outro e vice-versa. As virtudes, já paupérrimas, evaporam e abrem espaço para os defeitos verídicos, inverídicos ou imagináveis.
E, como a política é coberta por um imenso telhado de vidro, temos pedras que se cruzam em bombardeios de parte a parte. Muito pior é que tentam acobertar as próprias mancadas com as falseadas da muleta do outro. Não respondem pelos seus atos. Culpam os outros. É óbvio que isso é uma guerra, pois a verdade evaporou e a mentira se espalha entre nós. Neste confronto, direta ou indiretamente, há violência, agressão e destruição. E, lado a lado, prossegue a imensa idiotice desta paupérrima discussão espelhada. Adultos agem como crianças no perigoso desafio das fakenews através de brinquedinhos pelas redes sociais. Entre as suposições do que seriam o bem e o mal, brigam para vestir as carapuças do bom ou do mau. Não merecemos esse destrutivo jogo espelhado. Necessitamos da autocrítica de cada um se olhando no próprio espelho, obviamente, sem vaidades. E cada qual cuidando do seu próprio rabo!
Haja cotonetes 1
É bem mais que ruído. A barulheira atinge dimensões de escarcéu e o status de balbúrdia. Falta cotonetes para tirar a coleção de decibéis que invade os nossos ouvidos. É um mundo ruidoso que impera em nosso meio. Começa com a vulgaridade de algumas lojinhas popularescas, aquelas que colocam alto-falantes na porta. Decibéis que se movimentam pelas ruas e ecoam entre o concreto. Essa conduta é tão corriqueira que até parece normal. As propagandas de carros de som enfileiram anúncios pelo centro da cidade. São tantos que embaralham confecções com móveis, eletrônicos, circos, parques, serviços ou politicagem. Não bastassem alto-falantes fixos e móveis e temos milhares de motocicletas com descarga aberta. Agora, parece que é moda, sedans médios de excelente procedência, conduzidos por motorista de boas famílias, circularem com escapamento que produz estouros e outras desagradáveis sonoridades.
Haja cotonetes 2
As cerejinhas do barulhento bolo são as infernais bicicletas motorizadas. E tem mais. Lá pelas duas horas da matina, um caminhão (cavalinho) desce a Independência devagar quase parando e buzinando incessantemente. Ora, será que não há solução para mudar esse quadro trepidante? Há, é claro. As lojas já são orientadas pela Secretaria do Meio Ambiente. Os carros de som merecem olhar e ouvidos atentos dos legisladores. Isso, é claro, sem perder votos. Motos e automóveis com escapamentos não originais são irregulares. As infernais bicicletinhas também. E buzinar à noite é outra infração. Obviamente que fiscalizar tudo isso é muito difícil. Mas, como não acredito em prevaricação, aposto que dezenas de infratores são multados diariamente por essas irregularidades. Até porque, Passo Fundo é uma Cidade Educadora. E as pessoas bem-educadas são silenciosas.
Espaço e educação
Sabemos muito bem que o desenvolvimento escasseia espaços e cria restrições no trânsito. Porém, o mau uso das áreas e o desrespeito às regras tornam a situação caótica. Há espaços exclusivos para carga e descarga. Porém, alguns malandros à pilha insistem em colocar os seus carros nesses locais. Então chegam os caminhões que necessitam abastecer os estabelecimentos comerciais e ficam sem lugar para estacionar. Ora, como um erro gera outro, acabam parando em fila dupla. E aí começam os problemas para o fluxo de veículos. Conclusão: falta espaço e boa educação.
Trilha sonora
Além da abundância de adjetivos que o seu talento merece, escolho a incrível versatilidade vocal para resumir Rita Lee. Cantou do rock pesado à ternura romântica no tom necessário e em perfeita afinação. Quando ingressei na Rádio Erechim, em 1976, caiu em minhas mãos um compacto simples com selo vermelho da Polydor. Tinha uma música que eu escutava no rádio e jamais imaginara que aquela voz terna e suave fosse de uma roqueira psicodélica. Rita Lee – José