Cezar Roedel
Consultor de Relações Internacionais
O mundo parou para assistir à coroação do Rei Charles III. A monarquia inglesa possui alta relevância, principalmente a partir de seu contorno diplomático, que decorre das funções de um Chefe de Estado. Enquanto o Chefe de Governo, Rishi Sunak, desenrola o plano operacional, com as questões mais domésticas do Reino Unido, mesmo assim ainda possui um grau de articulação internacional. Tem sido assim por séculos, uma clara divisão entre as chefaturas, característica das monarquias parlamentaristas e constitucionais. O mundo que Elizabeth vivenciou, certamente era completamente distinto do que se apresenta agora. Ela assumiu o trono na década de 1950, após o acometimento da Segunda Guerra Mundial. Era momento de reconstrução da paz e tentativa, principalmente, de se evitar novos conflitos. Em que pese a emergência da Guerra Fria, a política internacional gozava de certa estabilidade. No alvorecer da década de 1990, emergia a globalização e a consequente acentuação na interdependência econômica. Elizabeth II praticamente cunhou uma era internacional, visitando mais de 116 países.
O cenário mudou
Charles III assume em um momento completamente distinto. A guerra da Rússia contra a Ucrânia bate à porta da Europa, trazendo um desafio. Charles III já demonstrou o seu completo apoio à Ucrânia. Ao monarca, entre inúmeras funções, recai a necessidade da manutenção dos pilares diplomáticos do Reino Unido. Assim, ele recebe, em grande medida, as incursões de missões diplomáticas de países estrangeiros no Reino Unido, bem como a relação externa, com a Commonwealth e com todos os países do mundo. A primeira visita de Estado de Charles III ocorrerá na Alemanha, salientando os laços inquebrantáveis com os seus irmãos europeus. O simbolismo foi importante, principalmente para destacar a necessária relação com os países europeus, após a saída do Reino Unido da zona do euro, conhecida como Brexit.
Desafios
Em termos de política internacional, o primeiro desafio de Charles III é com o novo cenário europeu, com a guerra na Ucrânia. Outro é a diplomacia necessária após o Brexit, no sentido de manter forte a relação com os países europeus. A Commonwealth, a organização intergovernamental dos países que já fizeram parte do Império Britânico, dos quais Charles III é Chefe de Estado de 14 países, dos 56, entre eles, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, entre outros. Um dos desafios aqui é o de motivar alguns países que buscam tornar-se repúblicas, se distanciando do Monarca, tais como a Jamaica. Charles III terá de criar uma estratégia inteligente para não diminuir a Commonwealth, cativando os países para que lá permaneçam. As consequências da guerra também acentuaram problemas domésticos no Reino Unido, entre eles uma crise energética e o aumento do custo de vida para os britânicos, problemas que Rishi Sunak terá de resolver, em um cenário de tensão dos conservadores com os trabalhistas. A visão de Charles III se inclina fortemente à tradição e certamente buscará manter uma estabilidade relativa, sem mudanças ou rupturas com os padrões deixados pela sua mãe. São séculos de tradição, que deverão conviver com as aspirações modernas. Todavia, a monarquia segue forte entre os britânicos. God Save the King!