Algumas tendências que, diretamente ou indiretamente, estão relacionadas com a agricultura e com o sistema mundial de alimentação, devem ser olhadas com especial atenção, por condicionarem demandas por novos produtos, serviços ou processos e se constituírem em oportunidades para a criação de negócios de base tecnológica. E, Passo Fundo, que, além de instituições e empresas, públicas e privadas, dedicadas à inovação tecnológica para a agricultura, possui um parque científico e tecnológico instalado e em operação, destaca-se como uma cidade privilegiada para a exploração desse ecossistema de inovação visando a alavancar novos negócios.
É evidente que, apesar de ser condição necessária, possuir os elementos que dão a conformidade a um ecossistema de inovação, não é suficiente para que inovação relevante seja gestada. São necessários investimentos prévios em ciência básica, não raro produzida pelo Estado, muitas vezes com chances elevadas de não levar a nada, predisposição para a sinergia entre institutos de ciências e tecnologia e empresas privadas, respeito pela propriedade intelectual de terceiros e aos contratos e, principalmente, empresários dispostos a investir em negócios de risco.
A leitura de tendências nos setores da agricultura e do sistema mundial de alimentação, que, perceptivelmente ou não, são interligadas, pode ajudar na identificação de negócios de base tecnológica potenciais. Algumas são evidentes. Outras, nem tanto. Vamos a elas, adaptando para a nossa realidade, as tendências compartilhadas, publicamente, por Curt Blades, vice-presidente ligado ao setor industrial de equipamentos da Association of Equipment Manufacturers (AEM), na convenção da National Grain and Feed Association (NGFA), realizada em La Quinta, Califórnia, EUA, em março de 2023.
A necessidade de maior produção na agricultura, tanto para uso como alimentação humana, ração animal, fibras ou energia, diante da expectativa de crescimento da população mundial (entre 2 e 3 bilhões de seres humanos a mais na Terra, até 2050, é uma tendência que poucos ousam discordar. E, também, não se discute que precisamos produzir mais, porém com menor impacto ambiental. Como fazer isso? Pela via da intensificação sustentável que significa produzir mais, na mesma área ora em cultivo,
Apesar da difusão, cada vez maior, na população, de hábitos de consumo vegetariano e vegano, da possibilidade de cultivo de “carnes” em laboratório e do uso de proteína vegetal como substituta da carne animal, não se identifica nada que assegure redução na demanda por proteína animal no mundo.
Outra tendência que se evidencia é a das cadeias curtas de abastecimento, de forma que os alimentos de origem vegetal, especialmente verduras e frutas, sejam produzidos nas proximidades dos grandes centros de consumo. No rastro dessa inclinação, as “fazendas verticais”, intensivas no uso de tecnologia e de elevado valor agregado da produção, começam mudar a paisagem em alguns locais do mundo, inclusive no Brasil.
A demanda por alimentos seguros, que tem sido clamada por uma parcela da população, que pode e está disposta a pagar por isso, cria a oportunidade para a inovação na área de rastreabilidade.
A mudança do clima global, não rara negada por alguns atores interessados, abriu e vai abrir espaço para muita inovação tecnológica em agricultura. Desde a configuração de uma nova geografia de produção até tecnologias mitigadoras de emissões de gases causadores de efeito estufa, via novos insumos de produção e equipamentos, além de certificacão, contabilização da pegada de carbono e geração de créditos de carbono na agricultura.
E, por fim, no universo digital, onde as oportunidades para a inovação aplicada na agricultura são infinitas. Na área de inteligência artificial, desde diagnósticos de precisão e mais ágeis, com automação de tomada de decisão e realização robotizada de práticas de manejo. Além de inovações em cyber segurança, merece especial atenção, a mudança, via sucessão familiar ou por meio de novos modelos de negócio, a nova geração de pessoas, mais afeita à tecnologia e ao universo digital, que passou a assumir o comando dos empreendimentos rurais.
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