A guerra da Rússia contra a Ucrânia alterou de forma significativa a correlação de forças na política internacional e trouxe mudanças que não foram calculadas pela estratégia errante de Putin. Uma delas foi a de ressignificar o papel da OTAN. A organização coletiva de defesa, antes do início da guerra, parecia estar apagada e sem um propósito. Com a aventura de Putin, tudo mudou. Há, no momento, uma forte mobilização das potências ocidentais em suporte à OTAN. Novos exercícios militares são realizados com frequência e alguns países aceleraram os seus pedidos de adesão, entre eles a Finlândia (que já se tornou membro) e a Suécia (a caminho de). Outra mudança importante foi a forma com que as potências ocidentais passaram a encarar a nova configuração do tabuleiro geopolítico, buscando estabelecer posturas condizentes, como a própria visão das ameaças à segurança internacional. A Alemanha é um exemplo. No decorrer da guerra, o país chegou a modificar o seu budget com a defesa, mesmo com o seu histórico de desmilitarização após a Segunda Guerra Mundial, aumentou o mesmo em 100 bilhões de euros, também prevendo os gastos com a OTAN e a modernização da Bundeswehr, as forças militares alemãs.
Nova conjuntura
Agora, a Alemanha apresenta a sua mais nova Estratégia de Segurança Nacional, criada por Olaf Scholz e o seu gabinete, após amplo debate com a sociedade. O propósito é evitar novas surpresas geopolíticas. Lembremos que no início da guerra, o país ainda relutava em enviar suporte militar à Ucrânia, cenário que mudou drasticamente, com os envios de tecnologia avançada de guerra. O documento faz alusão a repentina modificação da arquitetura da segurança europeia. Para os alemães, a estratégia passa a ser central na política externa, por isso a surpresa de Scholz em sua última visita ao Brasil, quando se deparou com um governo completamente desorientado em relação à questão ucraniana.
Novas ameaças
A Rússia passa a ser a principal ameaça nas relações internacionais e a China também é mencionada, uma vez que o documento aponta que Pequim busca, a partir de seu poder econômico, atingir objetivos políticos que podem ser entendidos como riscos. O documento também cita outras ameaças, que vão desde as cadeias globais de fornecimento até questões climáticas. O plano surgiu a partir da coalizão governista e para facilitar o diálogo interministerial, havendo dúvidas ainda sobre a criação de um Conselho de Segurança Nacional.
Exercícios militares
Enquanto isso, tomou destaque um dos maiores exercícios aéreos no âmbito da OTAN, que reuniu quase 300 aeronaves e mais de 10 mil soldados – isso tudo nos céus da Alemanha, com o “Air Defender 2023”. O objetivo é o de fortalecer a aliança contra ameaças de drones, aeronaves e mísseis, em zonas críticas. Trata-se também de uma sinalização para Putin, que vem empreendendo ataques aéreos constantes contra as cidades ucranianas. Os exercícios iniciaram ao mesmo passo em que tomou início a contraofensiva ucraniana, que vem apresentando alguns resultados, com a retomada de territórios em Donetsk. Os intensos combates perseguem, enquanto os ataques aéreos russos persistem, deixando uma incógnita sobre o futuro do conflito. A paz parece estar longe.