Quanto pesa a alma humana? Acredito que muita gente, ainda sob influência do filme dirigido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, 21 Gramas, e/ou embevecida pelo charme de Benicio Del Toro que, pelo papel vivido na trama, foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante em 2003, unissonantemente, vai responder: 21 g. Pois, foi exatamente esse o valor que o médico Duncan MacDougall, radicado em Massachusets/EUA, por meio de uma série de experimentos conduzidos com o intuito de provar que a alma existe e tem peso, atribuiu a essa entidade que era tida, até então, como imponderável.
Quem sabe foram os relatos de imagens diáfanas que se elevavam do corpo das pessoas no exato momento de sua morte e subiam rumo ao céu que justificaram a meticulosa engenhoca construida pelo médico Duncan MacDougall na busca pela mensuração da quantidade de massa da alma humana. Ou foi outra motivação qualquer e isso pouco importa, pois nunca saberemos. Mas, o fato é que, antes mesmo de publicar o grande achado de seus experimentos nos consagrados periódicos científicos Journal of the American Society for Psychical Research e American Medicine, entre março e abril de 1907, ele teve sua reputação assegurada e seu trabalho foi conhecido pelo grande público pelas páginas do The New York Times, em matéria veiculada na edição de 11 de março daquele ano. Desde então, o número 21 g tem ocupado posição de destaque na cultura popular, especialmente nos EUA, como indicador de peso da alma humana.
No consultório, numa cama estratégicamente improvisada sobre uma balança de alta resolução (para a época), o médico Duncan MacDougall passou a registar as variações de massa em pacientes terminais; desde algumas horas antes da morte até o último suspiro. Foram seis casos, sendo a primeira cobaia um homem com tuberculose, que ficou sob observação durante 3 horas e 40 minutos, perdendo peso aos poucos, em média 28 gramas por hora, e veio a morrer de repente. Nesse exato momento, o prato da balança subiu e registrou-se a perda dos famosos 21 g. “Foi assustador!”, disse o médico ao jornal The New York Times. Com os outros cinco pacientes, a coisa se passou algo difente, porém no mesmo rumo. Duncan MacDougall atribuiu o fato ao temperamento de cada indíviduo. Sobre um deles, sujeito apático, lento no pensamento e no modo de agir, ele supôs que a alma ficou suspensa no corpo, depois da morte, até se dar por conta de que estava livre para, enfim, subir ao céu. Na verdade, foi da média dos seis casos que saiu os 21 g ou, se preferirem, os ¾ de uma onça (1 onça equivale a 28 g), conforme as medições originais de Duncan MacDougall.
Em busca de comprovação para essa teoria estapafurdia, o médico Duncan MacDougall fez o mesmo teste com 15 cachorros, que, para desespero dos denfensores dos animais, tudo indica, não estando esses à espera do fim inevitável, foram devidamente envenenados, sendo que, no entanto, nenhum deles perdeu um grama sequer. Conclusão óbvia do Dr. Duncan MacDougall, em conformidade com suas convicções religiosas: homens têm alma, cachorros não.
Será que existe algum mérito científico nos exprimentos de Duncan MacDougall? Lamento pela desilusão, mas não creio que há algo relevante nesses relatos. Possivelmente, dando-lhe o benefício da dúvida e da boa fé como conduta, ele não mensurou da forma mais adequada o que acontece com os cadáveres. Ignorou o fato de o ar ter peso e não levou em conta a indefinição do “momento da morte”. Como ele definiu tão precisamente esse momento que está relacionado com um processo que pode se estenter por dias ou semanas? Tudoleva a crer que estamos diante de um exemplo clássico de como pesquisas mal-orientadas e equivocadas, em vez de lançar luzes sobre o desconhecido, prestam-se, antes de qualquer coisa, para a confirmação de pressupostos do pesquisador. Sobre a existência da alma e, portanto, seu peso, mais que fatos, o que domina nessa seara são crenças sem maiores fundamentos.
Quando andava as voltas em fotografar a alma desprendendo-se do corpo humano por meio de uma câmara de raios x, conforme anúncio estampado no The New York Times, edição de 16 de outubro de 1920 - “Ele pesou a alma humana” – o Dr. Duncan MacDougall, deixando um corpo inerte com 21 g a menos, no dia anterior (15 de outubro de 1920), entregou a alma a Deus. Amém!
(Coluna originalmente publicada em 18/08/2011)
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