Retornemos para 1962. EUA e União Soviética eram potências inimigas durante a Guerra Fria. Aproximava-se um dos momentos mais tensos do bipolarismo de então: a Crise dos Mísseis. Os soviéticos instalavam mísseis balísticos (armas nucleares) em Cuba, a pouco mais de 100 km de distância dos EUA. A Guerra Fria chegava em seu zênite e o perigo atômico se pronunciava. Hoje a Rússia ameaça o Ocidente e a sua principal parceira, a China, vem escalando uma tensão significativa contra os EUA. Neste momento, Pequim vem planejando uma instalação militar em Cuba. Na viagem que fez Antony Blinken, Secretário de Estado dos EUA, à China, comunicou as suas profundas preocupações com atividades militares em Cuba, bem como os indícios de atividades de espionagem. O avanço chinês é perceptível, considerando a sua base militar na África, em Djibouti. A discussão para a instalação militar já estaria em estágio avançado, conforme noticiou o Wall Street Journal. A visão chinesa das ditaduras latino-americanas é a de usá-las para sua projeção militar internacional.
Avanço militar
Muito provavelmente, o avanço pretendido na ilha cubana seria parte de um plano denominado “Project 141”, uma ambiciosa estratégia do Exército de Libertação Popular para expandir a pegada militar da China, no mundo, conforme aponta o site especializado em política internacional, Gzero. O avanço chinês à Cuba poderia ser entendido, a partir de uma leitura realista, como uma resposta à presença militar americana no Mar do Sul da China e no entorno de Taiwan, a ilha próxima à China.
Armas nucleares
O plano chinês avança ao mesmo tempo em que a narrativa nuclear emerge. No contexto da guerra na Ucrânia, são incontáveis as manifestações de Putin acerca da ameaça militar, que começam a sair do plano da narrativa. Lembramos aqui o deslocamento de armas nucleares russas à Belarus, muito provavelmente táticas, com menor poder de destruição do que as armas nucleares estratégicas, mas capazes de um efeito três vezes pior do que se viu em Hiroshima e Nagasaki, conforme relatos do próprio presidente de Belarus, Alexander Lukashenko.
A tentativa diplomática
A viagem de Blinken tentou apaziguar as relações sino-americanas. O Secretário de Estado informou que houve “progressos”. Salientou que existem questões cruciais entre os países, das quais permanecem sem um horizonte de solução. O tempo dirá qual foi o real efeito da abordagem diplomática, enquanto emergem as questões envolvendo a China e a ilha cubana. Pouco provável que os EUA retirem as suas tropas no entorno chinês, como da mesma forma Pequim desista de seus planos de expansão militar.
Viagem frustrada
Não durou muito para que as relações se acalmassem. O presidente americano, Joe Biden, comparou Xi Jinping a ditadores. A comparação surgiu em fala sobre o balão espião chinês que fora abatido no espaço aéreo americano. A China reagiu logo em seguida, afirmando ser a fala uma evidente provocação. Ao que indica, Biden não está preocupado em manter uma relação diplomática, ao passo que o seu principal diplomata retorna da China e o Chefe da Nação faz a aludida provocação, em completo descompasso. O cenário que se desenha em Cuba pode ser pior que a Crise dos Mísseis.