Adeus credibilidade
Desconfio que a expressão credibilidade está em processo de aposentadoria. Ou já está aposentada? No microfone da rádio, lá pelos anos 1970, tínhamos imenso orgulho em encher o peito para silabar credibilidade. Mas para isso era necessário o indispensável respaldo da verdade. No jornal o rigor com a palavra escrita é ainda maior. Errar todos erram. Obviamente, também errávamos e continuamos errando. Sob a bruma da ditadura, havia a censura que era um convite ao drible ou até mesmo para bola nas costas. Isso, é claro, com o respaldo da verdade. Para publicar um texto no jornal ou improvisar ao microfone havia o temor pelo erro.
E, ainda, cautela para que nenhum censor coçasse a orelha. Mentir seria um pecado, além de um crime. Falar o que pensamos é liberdade. Distorcer os fatos ou induzir à interpretações erradas é conduta pecaminosa e criminosa. E é exatamente isso que vejo ao abrir o conteúdo de “notícias” na tela lateral do celular. Em meio a algumas poucas informações, proliferam as mais absurdas idiotices. É uma lavoura onde semearam, terror, distorção, desinformação e outros impropérios. Ali encontramos um cenário de armadilhas que vai da fofoca sobre pseudo famosos à politicalha do detergente cerebral.
Fico pasmo ao ver que os censuradores de ontem apoiam a libertinagem de hoje. E alguns censores da época também. Dentre tantas mentiras surgiu a expressão fake news, estrangeirismo que sai da boca até dos xenófobos. Ora, fake news é uma expressão que age como desodorante para abafar o fedor da mentira. Nossos pais alertavam-nos sobre as más-influências. Tinham razão, pois agora convivemos com os “influenciadores” sem a mínima capacitação e desprovidos de credibilidade. Enfim, não há mais nenhum compromisso com a verdade. A mentira já é um vírus contagioso que prolifera em nosso meio. Até parece que isso interessa a alguém. E dá-lhe mentira, pois a credibilidade já foi sepultada pela ignorância coletiva em vigor.
Pissacam I
Radiche, radicci ou radite é uma imensa família de hortaliças, que inclui o almeirão, radiche-do-mato, dente-de-leão, radiche bravo, chicória-silvestre, chicória-louca, salada-de-toupeira e por aí vai. As folhas amargas bem preparadas são uma doçura ao paladar. Dia desses, no Bourbon encontrei rotulado como dente-de-leão o nosso velho e conhecido pissacam. Já de olho nos didáticos tutoriais do amigo Hugo Lisbôa sobre culinária mediterrânea, comprei um maço. Pissacam é aquele radiche de folhas longas e um talo roxo. É bem adaptável à região, tanto que o amigo Lauro Röesler produz na Vergueiro. Aliás, o pissacam tem lugar garantido nas hortas caseiras da colônia italiana do Rio Grande do Sul. Na geladeira é resistente e permanece tenro por alguns dias, mas após murchar o pissacam não tem mais utilidade.
Pissacam II
Sabe como é, depois dos 30 é bom se cuidar um pouco. Vi no pissacam um instrumento complementar para uma alimentação saudável. Então, após pesquisa sobre propriedades e benefícios, soube que o pissacam é antioxidante, digestivo, depurativo e segue-se uma lista de maravilhas. Ora, fiquei sem entender o porquê de o pissicam não conquistar mais espaço na nossa mesa. Lembro que teve boas passagens nas churrascarias e galeterias lá pelos anos 1970. Baixo custo, saboroso, colorido e saudável. Ora, a única resposta pode ser o fato de que alguns garçons da época eram gagos, o que poderia causar constrangimentos na hora de oferecerem pissacam aos clientes. Mesmo que alguns adorassem.
Ruas
Não digam que abomino televisão. Assisto jogos do Grêmio e até dou uma espiada no canal Modo Viagem. Pois ao ver o programa Ruas Mundo Afora imaginei um capítulo rodado nas ruas de Passo Fundo. Certamente, Rodrigo Ruas (com a Anne junto!) mostraria o Monumento ao Teixeirinha e a cuia da Praça Marechal Floriano. Na Caravela, faria cara de paisagem procurando pelo oceano no horizonte. Já no centro da cidade, usaria fones auriculares de proteção para escapar das caixas de som. E de outras, literalmente, palhaçadas. Assim seria o Ruas Passo Fundo Afora. Ah, se essas ruas se essas ruas fossem minhas, eu mandava eu mandava silenciar.
Jabá
Excepcionalmente (e para não chatear) não tem jabaculê nesta edição.
Trilha sonora
Bossa Bros – I’m Not In Love