Nesse sábado, 22 de julho de 2023, os formandos das turmas, Agricultura e Pecuária, de julho de 1978, da Escola Técnica de Agricultura, a centenária ETA de Viamão, se reunirão, nas dependências do antigo educandário, para celebrar os 45 anos de formatura. A maioria deve chegar na Escola pelo meio da manhã, adentrando no estabelecimento de ensino pela Rodovia RS 040. Idealmente, todos deveriam usar a Estrada Velha do Passo do Vigário (Estrada José Garibaldi), pois foi por essa via de chão batido, que, a vasta maioria, chegou na ETA, em julho de 1975, descendo dos ônibus, que faziam as linhas Mostardas ou Palmares do Sul, e caminhando, com pesadas malas, pela frondosa Alameda dos Plátanos, até o núcleo de edificações da Escola, no alto de uma coxilha.
Talvez, na cabeça de alguns, que, nesses 45 anos passados, nunca mais (ou poucas vezes) botaram os seus pés nos campos do Passo do Vigário, reverbere, nos ouvidos silenciosos, o eco do grito “ANIMAL IMUNDO!” O primeiro e, certamente, o mais “carinhoso” dos tratamentos que seriam dispensados aos calouros da Escola, nos anos 1970. Para quem acabara de chegar na ETA, era um sinal do que poderia esperar o incauto bicho nos próximos 50 dias, o chamado “Período de Trote”.
A passagem pela ETA, escola em regime de internato, requeria alguns sacrifícios, associando estudo e trabalho agrícola em tempo integral. Além da resistência aos 50 dias daquilo que, em linguagem erudita, chamam de ritos de passagem e, na popular, de trote. O trote era costume consagrado e aceito pela Escola, desde a sua fundação. Sua origem, provavelmente militar, tinha no capítulo dos “direitos dos bichos”, uma espécie de direito consuetudinário, a síntese da sua essência: “o único direito do bicho é não ter direito a nada”. O trote, na verdade, visava à integração dos alunos novos à comunidade de veteranos da ETA. O que, com raríssimas exceções, acabava, de fato, acontecendo. Até porque não havia escolha. Ou o sujeito aceitava ou acabava sucumbindo.
Não dá para entender o trote, uma aparente selvageria (e, em alguns casos, de fato, era), dissociado do ideal Positivista que norteou a criação da Escola de Engenharia de Porto Alegre e seus institutos, em 10 de agosto de 1896, e, vinculada a ela, a ETA: “Conduzir o indivíduo do mais modesto ao mais elevado grau de ensino técnico”. Por essa lógica, o indivíduo era quebrado para depois ser reconstruído, mesmo sem perceber. Só que nesse processo, os pedaços de muita gente, ainda hoje, podem ser encontrados nos arredores do Minhocão (o prédio central da ETA). Ou seja, a ETA não surgiu isoladamente. Fazia parte de um sistema de ensino que os simpatizantes do Positivismo de Auguste Comte, tão em voga naquela época, procuraram implementar no Brasil. O sexto instituto da Escola de Engenharia de Porto Alegre foi o de Agronomia e Veterinária, denominado Instituto Borges de Medeiros, que mantinha o campus da atual Faculdade de Agronomia da UFRGS e o campus de Viamão, na localidade de Passo do Vigário. Nesse último campus, onde está sediada a ETA, funcionavam o Instituto de Zootecnia e a Estação Experimental Agrícola. O primeiro curso a entrar em funcionamento foi o de Capatazes Rurais, criado em 1º de novembro de 1910, data que marca o aniversário de fundação da ETA.
O professor Mozart Pereira Soares, um dos baluartes do Positivismo gaúcho, lançou na Feira do Livro de 1997, em Porto Alegre, pela editora AGE, a obra “ETA - Escola Técnica de Agricultura João Simplício Alves de Carvalho”. O livro do professor Mozart é leitura obrigatória para quem quiser conhecer a origem e a base filosófica do ensino agrícola no Rio Grande do Sul. É inegável a influência do Positivismo nas ciências agrárias no Brasil. E a história da ETA permite perceber isso claramente.
Quarenta e cinco anos separam muitos dos formandos da ETA, turma Julho de 1978, que nunca mais se viram. Um grupo de senhores e senhoras, todos passados dos 60 anos, vários próximos dos 70 anos e outros que superaram essa marca. Sabe-se que alguns não virão. Não por vontade própria, mas porque não estão mais entre nós. Requiescat in pace! Que esse encontro seja uma celebração à amizade!
FORNANDOS AGRICULTURA: Alcides Dal Belo, Antonio Romeu Bastos, Carlos Roberto. F. Teixeira , Cláudio Roberto. V. Rocha, Cláudio Tadeu Farias (In memoriam), Décio M. Damiane (In memoriam), Domingos J. C. Santos, Édison Leo Alessandretti, Édson Luiz de Oliveira (In memoriam), Elisabete T. Vogel, Elstor José Brito, Enio Batista Ferreira, Eraldo C. Toillier, Eronéu A. Linch, Flávio Frasson, Gilberto Rocca da Cunha, Gilmar Francisco Frasson,Gilmar Wink, Guaraci A. R. Barcelos, Guilherme Alexandretti, Heitor Paulo Klein, Hilario Luiz Klein, João Carlos Pinto de Sant’Anna, João Luis Souza dos Santos, Jorge Antoniazzi, José Roberto da Silva, Judenei Conti, Liane da Silva Marçal, Luiz Antônio Pedotti (In memoriam), Luiz Delfino Teixeira Albarnaz, Luiz S. L. Andrade, Marco Aurélio Borges Teixeira, Marco Aurélio Mondadori, Milton Cezar Dalcégio, Milton H. Jantsch, Moacir Silva da Silva, Névio Lorenzet, Paulo Abreu Gonsalves, Paulo Roberto Santin, Rudimar Roberto Gollo, Sabino Oltramari, Silvana Teresa de Araujo Silveira, Silvio Luiz da Silva, Wilson Antônio Costa Arruda e Luiz Antônio Mezzomo.
FORMANDOS PECUÁRIA: Antônio Carlos Brandli Pinto, Antônio Pontin, Celso José Weber, Claudionor Ossani Cordeiro, Cláudio Fonseca Vargas, Emilio Carlos de Lemos, Enio Baldasso, Erton Rene Monteiro de Bittencourt, Heloisa Pacheco Pinto, Irineu Marcelo do Nascimento, Ivan Oliveira Maidana (In memoriam), Jair Luiz Becker (In memoriam), Jane Marisa Abreu Gonçalves, Luiz Pozzi de Nardin, José Osvaldo Garcia Canquerini, Mauro Roberto Guimarães de Bitencourt (In memoriam), Nélio Tedesco Sperling, Paulo Renato de Oliveira Sobragy, Paulo Roberto Gomes Garcia, Ricardo Bülau, Reni Grifante (In memoriam), Rogério Guimarães Goularte (In memoriam) e Telmo Cardoso da Perciúncula.
SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8