OPINIÃO

Mario & Gabo

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Quem poderia imaginar que dois gênios da literatura mundial, Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez, um dia, haveriam de terminar uma amizade fraterna, protagonizando uma cena de agressão pública, cuja motivação continua, até hoje, mal-explicada. O acontecimento que rompeu, ad aeternum, a relação entre Mario e Gabo, foi na Cidade do México, em 12 de fevereiro de 1976, em um cinema, numa sessão especial, para convidados, do documentário “Odisea en los Andes” (relato da queda do avião uruguaio nos Andes, em 1972, que obrigou os sobreviventes a comerem carne humana), com roteiro assinado por Vargas Llosa. García Márquez, ao avistar o amigo de longa data, foi ao seu encontro, de braços abertos, bradando “¡Hermano! ¡Hermanazo! (Irmão! Grande irmão!)”, todavia, em vez do efusivo abraço esperado, foi recebido com um soco cruzado de direita, que, acertando-o no nariz e no olho esquerdo, o nocauteou. Ao ser questionado sobre o que havia feito, Mario, ainda furioso, deixou o local, gritando “¡Es por lo que le hizo a Patricia! (É por causa do que ele fez com Patrícia!)”.

O fato é que, naquele instante, os dois gênios da literatura mundial, romperiam, de vez, a amizade e o compadrio, construídos durante o período que viveram em Barcelona, para, nunca mais, até a morte de Gabo, em 2014, se falarem. Nem mesmo Carmen Balcells, a famosa agente literária que catapultou ambos à fama e, ao longo da carreira, representou, nada mais e nada menos, do que seis ganhadores do Nobel de Literatura, conseguiu o intento. O assunto era incômodo para os dois, mais para Mario do que para Gabo. García Márquez dizia que ele não brigou com Vargas Llosa, mas, sim, que foi Vargas Llosa que brigou com ele. E, Vargas Llosa, sempre preferiu encerrar a questão, afirmando que a deixava para os seus biógrafos responderem. Afinal, que fez ou disse García Márquez a Patricia? Eis uma questão que tem dado vazão a especulações de toda sorte, algumas razoáveis e outras nem tanto.

A versão mais recente, que, até por ser peça ficcional, embora embasada em personagens e fatos reais, deve ser vista com a devida cautela, é a novela/romance de Jaime Bayly, lançada na Espanha, em 2023, por Galaxia Gutenberg. O livro de Bayly, apesar de não dar a resposta esperada por muitos, instiga a curiosidade e dá asas à imaginação sobre o que, efetivamente, teria motivado a fúria de Vargas Llosa e o ataque público, desmesurado, a García Márquez. Bayly, jornalista peruano, radicado em Miami, e escritor de obras literárias de sucesso (“No se lo digas a nadie”, por exemplo), além de ser muito conhecido, na América Latina e no Caribe, por seu programa de entrevistas na TV e opiniões políticas contrárias aos regimes autoritários de esquerda na região. Com texto virtuoso, Bayly reascendeu o interesse pelo histórico episódio.

As crises no casamento entre Mario e Patricia, com separações e reconciliações, não são novidades, desde que ele deixou Julia Urquidi, que era sua tia e 13 anos mais velha do que ele (história contada nos livros “La tía Julia e el escribidor”, de 1977, de Mario, e “Lo que Varguitas no dijo”, a resposta de Julia, de 1983), para se casar com a prima-irmã Patricia Llosa, em 1965. Uma das separações do casal deu-se na volta dos Vargas Llosas, de Barcelona para Lima, em 1974, quando na viagem de barco, Mario se envolveu com a sedutora modelo Susana Diez Conseco. Diante dessa situação, Patricia teria procurado García Márquez, em Barcelona, e, para alguns, ele a teria aconselhado se separar, definitivamente, de Mario, pois era um mulherengo incorrigível. Outros asseguram que, ao levar Patricia para o aeroporto, depois de uma festa, Gabo e ela teriam ido parar em um hotel, o avião partiu para Lima sem Patricia, e, ninguém sabe ou ousa afirmar, se apenas continuaram a conversa ou houve algo mais entre eles. Tempos depois, reconciliando-se com Mario, Patricia teria contado o ocorrido e, em razão disso, Vargas Llosa, tomado por sede de vingança, agrediu García Márquez.

Mario Vargas Llosa, o sedutor, depois do famoso discurso, na cerimônia que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, em 2010, com juras de amor a Patricia, outra vez se separaria dela, em 2015, para viver uma nova paixão com Isabel Preysler, a famosa socialite conhecida como “la reina de corazones” (a rainha dos corações) ou “la reina del papel couché” (a rainha do papel couché), fazendo a alegria das revistas de celebridades. Depois de sete anos, a paixão parece ter acabado e, Mario e Patricia, repetindo cenas do passado, estariam, em 2023, novamente, reconciliados.

Enfim, o segredo permanece. Quem pode revelar? Patricia ou Mario, que ainda estão vivos, ou, quem sabe, como insinuou ele, alguma futura biografia, que traga a confissão de um ou de outro.

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