OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Cezar Roedel

Consultor de Relações Internacionais

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Nos últimos dias, a América Latina apresentou movimentos importantes, tanto na esfera da política internacional, quanto da política doméstica. Refiro-me aos seguintes acontecimentos: 1) o assassinato político no Equador, do candidato à presidência, Fernando Villavicencio e a emergência do narcotráfico no processo da política equatoriana; e 2) a vitória surpreendente de Javier Milei, nas primárias argentinas, criando um cenário que as pesquisas não conseguiram captar, sendo Milei o favorito na corrida presidencial de outubro.

 

Equador 

O assassinato de Fernando Villavicencio, no Equador, trouxe uma reviravolta política e eleitoral, mas o que mais importa é a ascensão dos narcotraficantes no país e os possíveis impactos irreversíveis. Semanas antes do assassinato de Villavicencio, as facções narcotraficantes haviam assassinado o prefeito de uma cidade portuária no Equador, Manta. E um dia após o ocorrido com o candidato à presidência, uma candidata à Assembleia Nacional teve o seu carro alvejado por tiros. A situação no Equador começou a piorar drasticamente, a partir do desentendimento de facções narcotraficantes na penitenciária de Guayaquil. Desde então, porções do território equatoriano estão quase sob o comando das facções. Estrategicamente, para o narcotráfico, o Equador está entre o Oceano Pacífico e a Amazônia, rotas importantes no escoamento das drogas. A situação já perdeu o controle e as polícias não conseguem manter a ordem nas penitenciárias. A conjuntura chamou a atenção do grupo IDEA, que é formado por ex-chefes de Estado da Espanha e países latino-americanos, entre eles: José Aznar (Espanha), Iván Duque (Colômbia), Mauricio Macri (Argentina), Lenín Moreno (Equador). Por meio de carta, a preocupação não se restringia ao Equador, mas a outros países onde o narcotráfico avança, colocando a América Latina em um risco considerável. Também fazem alusão ao assassinato do promotor paraguaio Marcelo Pecci, que investigava conexões entre corrupção e lavagem de dinheiro, com o narcotráfico. O contexto da preocupação é bem conhecido na Colômbia e no México. A manifestação é um prenúncio do que ocorrerá na América Latina se a ameaça do narcotráfico conseguir se estabelecer, perante governos que perderam o controle da situação. Surge o conceito dos narcoestados, ou seja, países onde as facções narcotraficantes estão infiltradas nos poderes e nas forças armadas.

 

Fenômeno Milei 

Os argentinos foram surpreendidos pelo ótimo desempenho de Javier Milei, o candidato de direita, com viés liberal, que corre por fora das coalizões tradicionais. As pesquisas erraram feio e o resultado colocou Milei como favorito na corrida presidencial, contra Patricia Bullrich (oposição atual) e Sergio Massa, candidato da esquerda. O resultado é indicativo de que os argentinos parecem colocar em Milei alguma esperança de mudança de cenário no curto prazo. O país foi deixado à beira do colapso por Alberto Fernández e Cristina Kirchner, em situação econômica degradante. A vitória de Milei também significa o completo desgaste do peronismo e do kirchnerismo, derrotado em quase todas as cidades argentinas. Por mais que Milei tenha emitido opiniões polêmicas, parece haver ainda, entre os argentinos, uma esperança para sair da tragédia atual.

 

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