OPINIÃO

Aumentam suspeitas

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Não há rigorosamente novidade quanto às ações secretas que sempre envolveram o comando político do governo Bolsonaro. Agora estamos diante de fatos alertados pela imprensa e apontados pelos órgãos fiscalizadores oficiais. Os depoimentos do Hacker Walter Delgatti, preso, contém sérias alusões ao envolvimento da deputada Carla Zambelli, o ex-presidente Bolsonaro, e outros. Suas declarações, tanto na CPMI como na Polícia Federal, na condição de contratado para campanha insidiosa contra a garantia do voto eletrônico são vistas como corolário de investigação de atentado à democracia. Há contexto cronológico de vários incidentes que culminaram com a criminosa invasão e atos de violência na praça dos poderes da República. A investigação da Polícia Federal atua na busca de provas de fatos delituosos no bojo da materialidade, Tem. Cel. Mauro Cid e outros, em violações que incluem responsabilização de mandantes. O escândalo da venda de joias pertencentes ao patrimônio nacional, envolvendo o então ajudante de ordem, representa a decepção inegável a despeito do que apregoava o moralismo do centro do governo derrotado nas urnas. As suspeitas e indícios que possam agravar um descalabro na gestão pública bolsonarista abrangem responsabilidades de ordem política e também criminal.

Provas

A punição com inelegibilidade aplicada ao ex-presidente é fato que indica como se forma a prova condenatória. No caso do abuso de poder, configurado, as evidências, provas, vieram claras e robustas, culminando com as restrições eleitorais. No caso de atentado contra a democracia, em responsabilidades atribuídas a Bolsonaro, a possibilidade condenatória depende de comprovação de fatos alegados em várias acusações. A palavra de Delgatti pode ser indício relevante na acusação, mas pende de comprovação. Tais provas, com as investigações, serão apresentadas ao Judiciário. Além disso é preciso mencionar que todo o procedimento judicial vive novos tempos, longe da ditadura. O estado democrático de direito prevê ampla forma de defesa. E, em princípio, cabe a quem acusa juntar provas do crime. Existe, então, razoável tempo a ser percorrido, até julgamento definitivo. Neste sentido os mais sequiosos de justiça condenatória precisarão de calma.

Sem zombaria

É difícil conter a vontade de quem espera a punição política e criminal aos adversários políticos. As zombarias são veiculadas com variadas conotações, plausíveis à liberdade de manifestações. Outras, mais acerbas, ou despidas de humor, são mais cáusticas e pragmáticas, antecipando julgamento condenatório. A certeza de imediata prisão de Bolsonaro, por exemplo, não é aconselhável, nem mesmo pela militância esquerdista mais fanatizada. Os representantes líderes do atual governo, vencedor das eleições, até por estratégia ideológica, podem moderar ou resguardar as ilações mais ferinas. Também para se mostrarem diferentes dos procedimentos mentirosos adotados pelos adversários. É impressionante a persistência do enorme núcleo de fanáticos que defendem cegamente a figura de Bolsonaro, mesmo diante das comprovadas maldades contra a saúde pública, nos episódios da pandemia. Referimo-nos ao efeito instigador que se produz no fanatismo bolsonarista, que permanece rijo, mesmo comprovada sua desastrosa atuação política, humanística e até perante a decência religiosa. Então, o deboche exagerado, recrudesce esta onda fundamentalista. O fenômeno ocorre em relação a Trump, nos USA, que sofre severas acusações. O presidente Lula e seus ministros certamente não perdem conceito se ponderarem as alfinetadas, ainda que admissíveis e justas. O provérbio popular “Asinus, asinum fricat” (um burro coça o outro) em alguns casos é a realidade dos adeptos mais fervorosos aplaudirem até os erros de seus líderes. É hora de promover a conciliação possível, sem perder o rigor ao responsabilizar os que cometeram delitos. A propósito, processar judicialmente os que ofendem a lei, é exercício democrático, que pode andar bem sem a zombaria. Ademais, os dois maiores pecados de Bolsonaro foram: o escarnecimento negacionista e ridente do povo aflito com a covid, que matou muita gente, e a conduta agressiva à instituição democrática, especialmente o sistema eleitoral.

 

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