OPINIÃO

Conjuntura Internacional  

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Cezar Roedel

Consultor de Relações Internacionais

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O processo de transformação digital de cidades tem sido amplamente discutido em todo o mundo. Trata-se de um movimento para poder entregar os melhores serviços aos cidadãos, a partir de toda a sorte de tecnologias voltadas às questões urbanas. Ocorre que a transformação digital de que se fala, geralmente é aquela destinada aos tempos de paz. Fui convidado para participar de um congresso, realizado em Montes Claros, Minas Gerais, que reuniu autoridades e especialistas em assuntos como inovação e tecnologia voltados à área pública. Na ocasião, palestrei sobre o conceito de Inovação Adaptativa, onde apresentei referências internacionais para reflexão das mais de 2 mil pessoas que circularam durante o evento, organizado por um consórcio de 62 municípios. Gostaria, assim, de dividir com os nossos leitores algumas questões interessantes.

 

Transformação Digital na Guerra 

Se perguntássemos quais cidades, no mundo, são as mais resilientes, responder-se-ia, provavelmente, Nova York, ou até mesmo, Tóquio. Mas em tempos de guerra? Kiev, capital da Ucrânia, é um grande modelo referencial de resiliência, inclusive digital, em meio a um conflito. Quando a guerra ilegal da Rússia contra a Ucrânia tornava-se realidade, em fevereiro de 2022, ocasião em que as tropas russas atravessaram a fronteira e invadiram a Ucrânia, Kiev demonstrou a sua grande capacidade de se adaptar a uma conjuntura complexa que se iniciava (imaginem o exército russo se dirigindo para a sua cidade...). Um case interessante foi a adaptação de um aplicativo (Kiev Digital), usado até então, em tempos de paz, como recurso de auxílio à mobilidade urbana, para um aplicativo desenhado para o cidadão ucraniano sobreviver ao ataque. Assim, o novo recurso passou a informar (em tempo real) aos cidadãos os alertas de mísseis, abrigos subterrâneos, centrais de aquecimento, as farmácias e hospitais em funcionamento, ou seja, a tecnologia aplicada a uma finalidade essencial. Outro exemplo de aplicativo é o ePPO, onde o cidadão pode mirar, com seu próprio celular, por exemplo, um drone sobrevoando em baixa altitude, auxiliando assim a defesa do país, uma vez que muitos drones russos sobrevoam a Ucrânia em baixas altitudes, sendo difícil a sua detecção pelos radares.

 

“Smart Cities” 

Outro conceito que tem sido amplamente discutido são as “Cidades Inteligentes”, que usam recursos tecnológicos integrados, como sensores, para analisar dados e comportamentos dos cidadãos e revertê-los em algo positivo para eles. Há aqui uma curiosidade. Um estudo foi conduzido com 187 cidades chinesas (declaradas pelo governo comunista como “Smart Cities”). A conclusão é que, na maioria dos casos, tratava-se apenas de uma parafernália tecnológica, sem qualquer benefício direto ao cidadão, não tornando, por exemplo, essas cidades mais resilientes. Assim, a conclusão é inevitável, não pode haver “Smart City” sem “Smart People”. A tecnologia por si não representa nada quando ela não está voltada ao cidadão (que é um animal social!). Por isso tudo, torna-se muito indicativa a leitura do livro The Future is Analogic, da David Sax (ainda não publicado no Brasil). Para o autor, o futuro é analógico! Uma provocação interessante para combater a ânsia atual em “inovar rápido” ou promover “transformações digitais”. 

 

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