OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Há um traço característico da configuração do poder mundial: as autocracias estão se organizando em um eixo emergente de contestação da ordem atual. Os dados trazidos pelo instituto sueco, V-dem (especializado no estudo da democracia) são sugestivos. Na época atual, 72% da população mundial vive em autocracias (regimes onde há poder absoluto na mão de um governante). Essa porcentagem era de 46%, em 2012. Se em 2002 eram 13 países que estavam rumo a se tornarem autocracias, hoje esse número subiu para 42. A troca comercial entre as democracias já foi maior: 74% em 1998 e 47% em 2023. A média democrática da atualidade é quase a mesma de 1986. Foi na última década que acelerou o processo de países caminharem a regimes autocráticos (com destaque à Ásia). Pela primeira vez, em mais de duas décadas, há mais regimes fechados do que democracias liberais.

 

A Balança de Poder também mudou 

Há uma mudança importante na configuração da balança de poder. As autocracias representam algo em torno de 46% do PIB global (a predominância nesse quesito ainda está nas mãos de democracias). As autocracias estão se tornando menos dependentes dos regimes democráticos em termos comerciais, enquanto as democracias praticamente dobraram a sua dependência nos últimos 30 anos. O exemplo mais elucidativo veio com a guerra na Ucrânia, que demonstrou a preocupante dependência de países europeus em termos energéticos, da Rússia, obrigando os europeus a retornarem para o carvão.

 

BRICS 

Outra forte evidência foi a última reunião do BRICS, onde a maior parte dos novos membros do grupo são autocracias, em grande medida, apenas para servir os interesses chineses. Lula é apenas um peão neste tabuleiro, manipulado pelos interesses autocráticos. Não podemos desconsiderar o fato evidente da acentuada orquestração entre os regimes fechados, insatisfeitos com o Ocidente, EUA e o dólar. A Rússia e a China estão a utilizar o BRICS apenas como uma ferramenta de contestação, enquanto Lula (e muitos analistas) considera que o BRICS de hoje é uma vitória do “Sul Global” – uma corrente teórica que ainda enxerga o complexo mundo de hoje, pela divisão hemisférica, ideias da década de 1990 que são vendidas como novidades no tempo atual.

 

Amigos ditadores 

A imagem do ditador norte-coreano indo de trem encontrar Putin, para mostrar o seu catálogo de armas, passaria por ficção aos desatualizados. No mundo presente, as autocracias se juntam, inclusive para atender interesses militares de uma guerra inconsequente conduzida pelo camarada Putin.

 

Cerco a Taiwan 

As autocracias criam a realidade voltada aos seus interesses. Um deles, por parte da China, é de que Taiwan seria o seu território. Nestes últimos dias, Pequim reforçou os seus exercícios militares no entorno da ilha, apenas para demonstrar o seu poderio e a capacidade para uma anexação futura. Na China, são comuns (e até oficiais) as narrativas de integração da ilha ao continente. Tudo isso porque a mentalidade dos líderes autocráticos é criativa, e se tornam cada vez mais, em riscos incalculáveis, se levarmos em conta que, para Putin, a Ucrânia também fazia parte do território russo. Os regimes fechados, daqui para frente, apresentam uma progressiva tendência de articulação entre si, uma vez que o caminho parece estar aberto, sem uma mão forte o suficiente para refrear os ânimos totalitários. Resta às potências ocidentais dependerem cada vez menos das autocracias.

 

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