OPINIÃO

Conjuntura Internacional  

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Na semana que passou tivemos a 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em meio a um mundo anárquico, que desafia, por certo, o desejo de uma paz justa e duradoura. A assembleia, notadamente, estava esvaziada, com quatro membros permanentes do Conselho de Segurança ausentes, entre eles: Reino Unido (Sunak), França (Macron), China (Xi Jinping) e Rússia (Putin), o criminoso de guerra. O Brasil, como tradição, abre a sessão com o seu discurso. Lula, entre outras questões, falou sobre o “Sul Global”. Muito tem se utilizado o aludido termo, quando surge a discussão sobre as novas configurações da política internacional. Mas afinal, o que é o “Sul Global”, e na média, o “sul-globista”?

 

Uma “visão hemisférica” 

Existem diferentes teses sobre a origem do conceito. O que podemos dizer, com segurança, é que surge praticamente na década de 1990, ainda na mentalidade bipolar e da divisão entre primeiro, segundo e terceiro mundo. A abordagem, defasada e imprecisa, ainda acredita que a melhor leitura sobre a complexidade da geopolítica internacional de hoje, deva se dar pelo corte hemisférico: o Norte, um hemisfério rico e dominador e o Sul, um hemisfério pobre e dominado, herança também de uma visão cepalina de mundo.

 

Imprecisão 

Por mais que alguns “especialistas” considerem o termo como a representação de um eixo claramente emergente na política internacional, há uma grande imprecisão. O “Sul Global” enquadraria os países que não querem ser aliados dos EUA e possuem um vislumbre acrítico com os projetos chineses que vão praticamente “comprando” os países do “Sul Global”. A imprecisão acaba escondendo os interesses soberanos e individuais, em uma mistura de países díspares econômica e politicamente (cerca de 130 países). Surge, disso tudo, o perfil do “sul-globista”, bem resumido na política externa lulista.

 

O “sul-globista” 

O “sul-globista” ficou conhecido, principalmente, com a emergência da guerra ilegal de Putin, uma vez que ele não emite um posicionamento firme contra a mesma e ainda relativiza o Direito Internacional Público, um importante ativo do Ocidente. Lula encarna claramente esse avatar: sugerindo a visita de Putin ao Brasil e relativizando o Tribunal Penal Internacional. Lula também quer reformar a governança global, mas não sabe como. O sul-globista não vê problemas em se aliar com autocracias. Enquanto projetam um novo mundo e um novo multilateralismo, não percebem que no BRICS, por exemplo, apenas são peões no tabuleiro geopolítico para atender os interesses chineses. O sul-globista é crítico à ordem internacional vigente, ao sistema financeiro, às instituições, mas não sabe ao certo o que propor como substituição, e quando sabe, apenas impulsiona o papel das autocracias na geopolítica. No tocante à guerra na Ucrânia, os sul-globistas se dividiram, com a maioria abstendo-se na ONU. O sul-globista também não vê vantagem em adentrar na OCDE, como bem exemplifica a política externa atual. Também possui uma inclinação pelas autocracias, não espantando que a primeira visita brasileira se deu à Rússia, e não à Ucrânia. Amorim também foi visitar Maduro. Receberam o chanceler russo, Lavrov, abaixo de palmas de futuros diplomatas, no Brasil (tudo isso em meio a uma guerra). Por fim, o sul-globismo é um balcão mercantil para projetos de autocracias, em um grupo heterogêneo e difuso, com intenções obtusas – um espaço cinzento do qual a política externa brasileira tem pouco a extrair. 

 

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