Riscos de vida e morte
De tempos em tempos, as expressões mais usuais do nosso linguajar são substituídas. Algumas ficam condenadas ao exílio e, mesmo após bons serviços prestados, acabam sepultadas pela passagem dos modismos. Mas, é bem verdade, há sentenças sentenciadas à morte porque atentam à última flor do Lácio. Erramos, tropeçamos, engolimos vícios e rodopiamos nas curvas da linguagem. Palavrinhas-cometas, como biorritmo, já passaram e ninguém sente a sua falta.
O futebol é um campo farto para improvisos e impropérios. Por muitas décadas, ao final da partida, havia os descontos. Lá pelos anos 1980 caiu a ficha e, atendendo à mais pura lógica aritmética, os descontos viraram acréscimos. A turma da editoria policial é campeã em ostentar expressões muito peculiares. Antigamente os ladrões entravam em determinado local e, após concluíram seu servicinho, fugiam do local. Agora, segundo a terminologia vigente, eles adentram ao local e, depois do crime, evadem-se em fuga. Defino os coleguinhas da editoria policial como os elementos que utilizam uma viatura rumo à uma sigla. Sim, agora polícia e Brigada foram fragmentadas em múltiplas e irreconhecíveis abreviaturas.
Há questões discutíveis, onde a lógica e o bom senso exercem pressão. Risco de vida ou risco de morte? Acredito que risco de vida vigorou mais de um século. Não está totalmente errada, pois significa colocar em risco a vida. Porém, bem mais adequada, é a utilização de risco de morte. Isso porque significa o risco de morrer. E, na mais didática exemplificação, o risco de vida ocorre quando a camisinha fura. Então, o risco de vida é a concepção enquanto o risco de morte é o aborto. Por que afirmo isso? Pela lógica, pelos modismos e pelas incertezas da minha própria vida. Se o aborto fosse permitido lá pelos anos 1950, será que eu estaria por aqui? Acho difícil, pois sempre soube que eu “me encomendei”.
Amor pela aldeia
Fico pasmo com o servilismo que afeta muita gente aqui por Passo Fundo. Parece que as pessoas são naturalmente subjugadas e veneram ilusões corporativas. Chutam o cocho onde comem pensando na lavagem que vem de fora. Iludidos, acreditam num mundo que não é o nosso. Como em A Rosa Púrpura do Cairo, sentem-se protagonistas sugados da plateia. Pisam num chão e imaginam que estão ao lado de pseudo-referências. Isso é muito triste quando parte de instituições ou grandes empresas. Não digo isso em tom de bairrismo idiota. É apenas uma questão de respeito. E respeito começa dentro de casa. Se não nos respeitarmos mutuamente em nosso torrão, jamais encontraremos apreço lá fora.
No clima do tempo
Em época das incertezas d’El Niño, o termômetro trabalha para oscilar entre extremos e, como diria Jorge Benjor, chove chuva chove sem parar. A notícias de meteorologia estão em alta e alguns até confundem clima com tempo. Talvez até por falta de tempo, não paramos para distinguir as duas palavrinhas. Tempo significa as condições atmosféricas momentâneas, enquanto o clima é um padrão das condições meteorológicas para determinada região. O ideal é não misturar as duas expressões. Exceto quando pintar um clima no tempo certo.
PAPI
Falou em aeroporto lembrou PAPI. São aquelas lâmpadas ao lado das cabeceiras da pista, batizadas como Precision Approach Path Indicator. Mas já podemos abusar da intimidade e chama-las simplesmente de PAPI. No caso do Lauro Kortz, parece que é um problemão e foi responsável pela demora na reabertura do aeroporto. Depois, sofreu panes sucessivas. O pepino é o conjunto da cabeceira 09 que, de acordo com os avisos legais, esteve fora de operações de 14 de julho a 12 de outubro. Pifou novamente (ou não sanaram o probleminha?) e está inoperante desde o último dia 16 com aviso até janeiro de 2024. Será que foi a fita isolante daquela emenda? Até porque, emenda combina com o ‘conjunto de remendos’.
Abuso ou crime?
Uma caminhonete, conduzida por um jovem, continua ocupando a área azul ou áreas de carga e descarga durante mais de 12 horas. O segredo da “invisibilidade” é a utilização do cartão de idoso no para-brisa.
Trilha sonora
The Verve - Bitter Sweet Symphony