A liturgia dominical se desenvolve ao redor do mandamento do amor a Deus e ao próximo (Êxodo 22,20-26, Salmo 17, 1 Tessalonicenses 1,5-10 e Mateus 22,34-40). Fariseus, saduceus e outros grupos divergiam frequentemente dos ensinamentos e dos comportamentos sociais e religiosos de Jesus. Não perdiam a oportunidade para “experimentá-lo”, como acontece com o relato de hoje: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” Reconhecem que Jesus é mestre, pois as multidões ficavam admirados com os seus ensinamentos, ensinava com autoridade. Comparavam Jesus com os mestres oficiais e reconheciam a sua superioridade.
A pergunta feita a Jesus não pode ser menosprezada. Os estudiosos classificaram e catalogaram muitos preceitos presentes na Lei e nos profetas. Procuravam fazer uma hierarquia delas. Havia muitos debates sobre o tema e não havia consenso sobre a hierarquia das leis, isto é, qual a mais importante até a menos. Por isso provocam Jesus a entrar no debate e manifestar a sua opinião. Jesus não se esquiva e aproveita a oportunidade para ensinar. Mesmo que o ambiente fosse polêmico, a resposta revela a originalidade da mensagem cristã.
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. O Cardeal Ravasi, grande biblista, comentando este texto bíblico, ensina: “A primeira vista, parece que Jesus queria se acomodar a esta impostação e oferecer assim a sua hipótese explicando dois preceitos primários. Na realidade a impostação de Jesus é radicalmente diversa e exclui qualquer legalismo. De fato ele não quer apresentar dois preceitos fundamentais, mas oferecer a perspectiva de fundo com a qual viver a inteira Lei, não quer impor um conteúdo material, mas antes dar o ambiente formal, a atmosfera na qual cada gesto, cada resposta religiosa e humana deva ser colocada. Não é um esquema de escala de valores, mas é a procura da essência de toda experiência religiosa e ética, é a impostação de uma inteira existência”.
Jesus acrescenta algo que não lhe foi perguntado. “O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. O aspecto surpreendente da resposta de Jesus consiste no fato de que Ele estabelece uma relação de semelhança entre o primeiro e o segundo mandamento, entre amar a Deus e ao próximo.
Amar a Deus e amar ao próximo, como mandamentos primeiros e semelhantes, não são uma simplificação da multiplicidade das prescrições e preceitos mas é, a chave de volta de toda a Lei e dos Profetas. “Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”, conclui Jesus. Se temos dúvidas sobre o que é amar, temos como critério de discernimento, o modo de viver de Jesus. Aqui está o fundamento que sustenta todo o agir do cristão. Amar a Deus e ao próximo não como uma obediência a uma série de deveres e obrigações que vem de fora, mas como expressão de uma escolha interior que envolve o ser humano e o ser cristão inteiramente. Amar sempre é uma ação que envolve a globalidade da pessoa: “amar de todo coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento”.
O livro do Êxodo desce a exemplos concretos o que é amar o próximo: “Não oprimas nem maltrates o estrangeiro (...) Não façais mal algum à viúva nem ao órfão. Se emprestares dinheiro a um pobre (...) não sejas usurário (...) Se tomares como penhor o manto (...) deverás devolvê-lo antes do pôr do sol. Pois é a única veste (...) e coberta para dormir (...) Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo