ÁGUA DA FONTE, o periódico cultural da Academia Passo-Fundense de Letras, a exemplo de jornais e revistas que, quando nascem, têm a pretensão de vida longa, iniciou com a sua edição princeps, o número ZERO, em dezembro de 2003. A revista foi criada por iniciativa dos acadêmicos Gilberto Cunha e Paulo Monteiro, que, desde então, têm atuado como editores da publicação. A escolha do nome da revista deu margem a ampla discussão. Entre proposições como “Letras Passo-Fundenses” e “Revista da Academia Passo-Fundense de Letras”, acabaria sendo, democraticamente, acatada a sugestão da poetisa Helena Rotta de Camargo, que, com argumentos irretorquíveis, convenceu a maioria a favor do nome ÁGUA DA FONTE. Todavia, é imprescindível frisar que, na ocasião, a proposição de criação desse periódico foi, incondicionalmente, apoiada por todos os membros do Sodalício das letras locais.
A alma mater das letras locais, a Academia Passo-Fundense de Letras, no começo dos anos 2000, estava carente de um veículo cultural para dar vazão ao que, literariamente, vinha sendo produzido por atores locais. Havia, na memória de muitos, os Anuários da Academia Passo-Fundense de Letras, que circulou em três edições, 1975, 1976 e 1977. Esse anuário, aliás, nas duas primeiras edições, ao descrever a ilustração da capa, como “a mais alta porta do Brasil”, foi responsável por popularizar esse mito para além dos limites de Passo Fundo. O jornalista/historiador Sérgio da Costa Franco, na sua coluna do Correio do Povo, de 6 de março de 1977, tratou do tema com certa ironia, ao frisar que “os literatos passo-fundenses, no claro afã de atrair novos sócios para a sua instituição, advertem que ninguém tema embaraços físicos ao ingresso na Academia. Tendo a porta mais alta do Brasil, a casa fica aberta às cabeças mais volumosas, sem que ninguém receie indesejáveis cabeçadas.” Seja por essa coluna do Sérgio da Costa Franco ou não, é fato que, na última edição desse anuário, 1977, que tinha sempre a mesma capa, a descrição mudou para “Fachada da sede própria..., sobressaindo-se a imponência da porta”, no lugar de “a mais alta porta do Brasil”.
Houve ainda, sucedendo os anuários dos anos 1970, o jornal VOZ DE PASSO FUNDO, rotulado de órgão oficial da Academia Passofundense (sic) de Letras, embora de propriedade do ex-padre e mentalista Jacó Stein, que teve quatro edições, em 1996. Depois, veio o jornal O GUARANI, criado em 1997, para ser o órgão de divulgação oficial da Academia Passo-Fundense de Letras, que circulou por dois anos, publicando quatro números, sob a responsabilidade editorial do acadêmico Ironi Andrade. Desnecessário frisar que, sob o selo de qualidade Ironi Andrade, sobressaia-se o esmero com a língua culta nas páginas de O GUARANI. Uma lástima que tenha tido vida curta.
E foi nesse vácuo que surgiu ÁGUA DA FONTE. Uma nova proposta editorial, norteada pela pluralidade, primando pelo respeito à diversidade, aberta à comunidade e, acima de tudo, voltada à valorização dos escritores e dos artistas plásticos locais, que foram especialmente convidados para a assinatura das capas das revistas. Os originais dessas capas compõem o acervo da Galeria das Capas, no auditório da agremiação. Além de, cada número, trazer entrevista central com uma personalidade de reconhecida relevância para Passo Fundo.
Dezenove anos depois, 22 números publicados (alguns em conjunto), a história de ÁGUA DA FONTE, periódico registrado no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT, sob o ISSN 1980-2986, pode ser assim resumida: Ano 1 – Número 0 – Dezembro de 2003, capa Liciane Toazza Duda Bonatto, entrevista central Tania Rösing; Ano 1 – Número 1 – Abril de 2004, capa Maria Lucina Busato Bueno, entrevista central Murilo Coutinho Annes; Ano 1 – Número 2 – Novembro de 2004, capa Mirian Postal, entrevista central Paulo Bilhar Dutra; Ano 2 – Número 3 – Julho de 2005, capa Sandra Keller Rorato, entrevista central Dom Urbano José Allgayer; Ano 3 – Número 4 - Abril de 2006, capa Nadja Rossatto, entrevista central José João Holzbach; Ano 4 – Número 5 - Junho de 2007, capa Mara de Castro, entrevista central Paulo Giongo, Ano 5– Número 6 – Dezembro de 2008, capa Klênia Sanchez, entrevista central Padre Paulo Augusto Farina, Ano 6/7/8 – Número 7/8/9– Maio de 2011, capa Leandro Dóro, entrevista central Bruno Edmundo Markus; Ano 9 – Número 10– Abril de 2012, capa Diego Chimango, entrevista central Padre Alcides Guareschi; Ano 9 – Número 11– Novembro de 2012, capa Tamara Costamilan Liska, entrevista central Rudah Jorge; Ano 10 – Número 12– Novembro de 2013, capa Liciane Toazza Duda Bonatto, entrevista central Osvandré Lech, Ano 11/12/13 – Número 13/14/15– Agosto de 2017, capa Welcy Soutier, entrevista central Ilmo Santos; Ano 14/15/16/17 – Número 16/17/18/19– Junho de 2021, capa Celina Scussel Madalosso, entrevista central Carlos Antonio Madalosso; Ano 17 – Número 20 – Dezembro de 2021, capa Elvira Battisti Ferreira, entrevista central Irineu Gehlen; e Ano 18/19 – Número 21/22 – Outubro de 2023, capa Mariane Loch Sbeghen, entrevista central José Carlos Carles de Souza.
Que ÁGUA DA FONTE, em tempos digitais, saiba se reinventar para, ao adentrar nos seus 20 anos de circulação, não tenha o mesmo destino dos seus congêneres anteriores.
SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8