OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Cezar Roedel

Consultor de Relações Internacionais

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A conjuntura econômica chinesa é uma grande incógnita para os próximos anos. Por ser uma grande economia (talvez o maior credor do mundo), um risco geoeconômico emerge. Os chineses esperavam que após a pandemia o consumo iria retomar aos padrões anteriores. Isso não ocorreu. Surgiu uma grande crise imobiliária, que o governo chinês tenta reverter, em um cenário complicado. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), um declínio de um ponto percentual na taxa de crescimento da China poderia reduzir o crescimento na África Subsaariana em 0,25 ponto percentual. Em relação aos países em desenvolvimento, recentemente foi divulgado um relatório revelador, pelo Instituto AidData, localizado na Universidade de Williamsburg, nos EUA.

 

Iniciativa

Desde que foi criada a Iniciativa da Rota e do Cinturão, projeto que a China foi praticamente comprando países em desenvolvimento, da Ásia até a América Latina, com os seus empréstimos. Desde a sua criação até os dias de hoje, o relatório estima que a cifra já tenha alcançado 1,3 trilhões de dólares, com o financiamento para grandes obras de infraestrutura como rodovias, portos, aeroportos, pontes etc. Ao todo, são cerca de 21 mil projetos que a China apoia, no mundo. Os países alvo em sua maioria são economias de baixa renda e com grande dificuldade de honrar com as suas dívidas. Aqui entra a estratégia chinesa: quando os países não conseguem honrar os empréstimos, a China sugere, em alguns casos, a troca por contratos em que passa a administrar portos ou aeroportos do país em questão, ou oferecendo empréstimos de resgate.

 

O momento

Uma das preocupações neste momento é que grande parte desses empréstimos estão a entrar em sua fase de reembolso, justamente com a alta de taxas de juro, mundialmente. Muitos países acumularam tantas dívidas com a China, que não conseguem mais calcular com precisão o valor devido. Com os dias chegando para o acerto, a inadimplência é certa. Com a pressão mundial dos juros, o cenário é ainda mais catastrófico.

 

Os principais devedores

Entre os países que mais tomaram os empréstimos chineses, no mundo, estão: 1) a Rússia, com 169 bilhões de dólares; 2) a Venezuela, com 113 bilhões de dólares, seguido de países como Paquistão, Angola, Cazaquistão, Indonésia, Brasil, Argentina e Vietnam. Em termos de regiões, o ranking fica assim: 1) Ásia; 2) África; e 3) América Latina. Entre os setores mais privilegiados estão a mineração, construção, energia, transporte e armazenamento. No site (china.aiddata.org) todos os projetos estão detalhados.

 

Os cenários

A incerteza sobre o futuro da economia chinesa é um importante risco geoeconômico para 2024, visto que tanto o Brasil como o Rio Grande do Sul são importantes parceiros comerciais. Será importante observar também a dinâmica chinesa, como maior credora mundial, com os países em desenvolvimento. Surge na Argentina, com o novo governo, uma mudança de diálogo, podendo alterar de alguma maneira a estratégia chinesa no triângulo do lítio, uma vez que os projetos chilenos estão relativamente estagnados, a Argentina passa a ter um papel preponderante no processo de transição energética e a busca por novos parceiros na área, entre eles os EUA, pode mudar a dinâmica de investimentos.

 

 

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