Está começando um novo Ano Litúrgico, o ano da Igreja, que tem a mesma duração do ano civil, mas com início e conteúdo diferente. É um caminho de fé, para vivermos juntos nas comunidades cristãs, mas também para percorrer a história. O ano litúrgico é a memória e atualização da história da salvação já realizada e é, ao mesmo tempo, promessa e antecipação da história da salvação que deve realizar-se.
O primeiro domingo do Advento abre a primeira etapa do Ano Litúrgico. Um tempo maravilhoso no qual desperta nos corações a expectativa do retorno de Cristo e a memória da sua primeira vinda. Uma virtude fundamental, neste período, é a espera que serve para preparar o coração, para refletir sobre nós, sobre Deus, sobre o mundo que nos circunda. Ela ensina a termos paciência e a rever alguns dos nossos programas e projetos.
Um novo Ano Litúrgico nos é oferecido pela bondade de Deus. A Igreja espera a chegada do Senhor, o advento daquele que virá no futuro. A comunidade cristã não pode deixar apagar a chama da espera. Também Deus entrou no tempo, sem jamais cansar-se de esperar pelo amor dos homens. A espera é uma oportunidade preciosa, um tesouro a descobrir e a valorizar.
A Liturgia da Palavra oferece textos que introduzem os fiéis para viverem à espera do Senhor. (Isaías 63, Salmo 79, 1 Coríntios 1,3-9, Marcos 13,33-37). “Vigiai” é o apelo de Jesus no evangelho. “O que vos digo, digo a todos: vigiai!”. É uma chamada saudável para recordar-nos que a vida não tem somente uma dimensão terrena, mas está projetada para a eternidade, para o encontro do Senhor no céu. Vigiar significa seguir o Senhor, escolher o que Cristo escolheu, amar o que Ele amou, conformar a própria vida com a sua. Vigiar exige um justo desapego dos bens terrenos, um arrependimento sincero dos próprios erros, uma caridade laboriosa em relação ao próximo e sobretudo uma entrega humilde e confiante nas mãos de Deus, nosso Pai eterno e misericordioso.
O tempo do Advento é necessário para despertar no coração dos cristãos a esperança de poderem, com a ajuda de Deus, renovar o mundo. O profeta Isaías suplicava: “Ah! Se rompesses os céus e descesses! [...] Vens ao encontro de quem pratica a justiça com alegria, de quem se lembra de ti em teus caminhos”. O salmista reza: “Vinde logo nos trazer a salvação. [...] Dai-nos vida e louvaremos vosso nome!” A Constituição conciliar Gaudium et Spes, nº 39, exorta os cristãos para viverem a esperança na construção de uma nova terra e um novo céu. “Sem dúvida, passa a figura deste mundo, deformada pelo pecado (1Cor 7,31), mas aprendemos que Deus prepara uma nova habitação e uma nova terra, na qual habita a justiça (2 Cor 5,2, 2Pd 3,13), e cuja felicidade satisfará e superará todos os desejos de paz que surgem nos corações dos homens (1 Cor 2,9, Ap 21,4-5). [...] Contudo, a expectativa de uma nova terra não deve enfraquecer, mas antes estimular a solicitude de desenvolver esta terra”. A espera assume a dimensão particular da esperança não permitindo que se caia na indiferença, no egoísmo, no abandono de Cristo e da fé e nem se abandone o compromisso cotidiano com a sociedade.
Contínua vigilância e vital espera são as duas condições para acolher com amor Jesus que veio a primeira vez há 2023 anos; aquele que sempre vem na história cotidiana de cada homem; aquele que virá no fim dos tempos. Em termos definitivos podemos dizer que quem vigia e espera, ama verdadeiramente.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo