OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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A anarquia do sistema internacional e o déficit relativo de lideranças dispostas a desempenhar o caro preço da realpolitik têm dado espaço para o avanço de ditadores dispostos às piores aventuras. Foi assim com Putin e a sua guerra expansionista. Agora é a vez de Maduro, antes mesmo que venha o desdobramento dos interesses chineses de anexar Taiwan, outra problemática que reflete o desejo desenfreado das autocracias pelo poder. Maduro quer Essequibo, a região que está sob o controle da Guiana, desde a sua independência do Império Britânico. O país dobrará o tamanho de sua economia, segundo o Fundo Monetário Internacional, nos próximos anos. O mar territorial de Essequibo guarda importantes reservas de petróleo, descobertas em 2015, e passou a ser a “menina dos olhos” de Maduro, ou melhor, de interesses que cruzam o “mise-en-scène” do ditador. Vou explorar aqui as razões pelas quais considero uma invasão absoluta, pouco provável e, caso remotamente pudesse ocorrer, seria para beneficiar interesses muito maiores que os de Maduro, que hoje é uma marionete dos chineses e russos, tendo entregado o seu país aos primeiros.

 

Uma guerra irracional?

O ano de 2024 na Venezuela será marcado pelas “eleições”. Neste momento, Maduro busca uma narrativa que atenda a situação e a “oposição”, dando força a um nacionalismo que possa lhe servir de alguma forma. A questão do petróleo existente em Essequibo não seria garantia ao ditador. Se Maduro resolvesse colocar a mão nele, bastariam sanções pesadas das nações ocidentais, para deixar o custo da guerra muito maior do que o lucro com o petróleo. Surge outra questão, quem explora o mesmo, hoje? 75% os americanos da Exxon e da Chevron e 25% os chineses! A Venezuela é, na América Latina, o país que mais recebe investimentos chineses, inclusive militares, sendo praticamente um protetorado de Pequim. Estaria interessado o Maduro em atrapalhar os negócios chineses? Do outro lado, a Guiana é um país que também recebe pesados investimentos chineses, sendo o principal jornal do país, replicador da propaganda de Pequim. Ora, uma guerra entre dois países que possuem como principal parceiro a China: por qual razão o ditador colocaria os investimentos de Xi Jinping à sorte da reação dos EUA e outras potências? Além disso, uma invasão pela selva requer muita destreza, o GPS não vai funcionar, os blindados não irão passar e a logística imporá a sua realidade.

 

Cenários

O verdadeiro “mise-en-scène” de Maduro, então, atende a quais propósitos? Creio que o primeiro seja o de criar uma narrativa política que lhe favoreça (podendo repetir que os problemas de sua ditadura deprimente são culpa dos ianques!). O segundo indica que há uma tentativa de escalar ao máximo um problema, para forçar uma “mediação” diplomática chinesa que atenda, em primeiro, os seus interesses, em segundo aos da Venezuela (seu protetorado). E, terceiro, à acomodação da Guiana, que também possui parceiros democráticos. A jogada ensaiada tende a ser mais estratégica do que uma guerra que pudesse colocar interesses maiores em conflito. Ao que tudo indica, o que vemos hoje é mais uma das presepadas de Maduro. Caso uma invasão venha a ocorrer, remotamente, haverá o forte indicativo de que interesses muito maiores que os de Maduro estariam sendo colocados em jogo.

 

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