IE, Gaúcho e Boqueirão
Por aqui, enquanto não chove cai água. Então, aproveitei a longa estiagem do último sábado, quando ficamos sem chuva por quase 12 horas, para esticar as pernas. Optei por uma saudável e lenta caminhada. Destino: Boqueirão! Para os olhos foi um encanto observar o contraste arquitetônico de várias épocas. Aos ouvidos, mesmo importunados por ruidosas motocicletas, ainda é possível escutar alguns pássaros. As narinas sentiram um alívio sem o fedor da pastelaria aqui de baixo. A carcaça engrenou no tranco, mas necessita de balanceamento, reaperto e lubrificação. Certamente, o maior benefício foi à alma. Sim, não faltou movimento, paisagem e personagens para o cinema da vida que encarnamos.
Na incursão ao Boqueirão segui às mais rígidas regras de decoro e vesti uma camisa do Sport Clube Gaúcho. Um sucesso, pois a cada esquina surgia alguém para acenar sorrindo ou gritar “Gaúcho”! E, de lambuja, a tradicional camisa verde afastou os olhares da minha barriguinha indiscreta. Xereta por instinto e curioso por vocação, parei em frente ao lendário Instituto Educacional. O queixo despencou diante da cuidadosa restauração do prédio Texas. Na próxima incursão boqueiriana vou espiar a parte interna do IE. De volta ao plano de voo, manete para frente, troquei de calçada para reencontrar um amigo praticamente desaparecido: o Sol. Segui em módicos passos até a Caravela que, acreditem, permanece ancorada em meio a toda água que rolou pela cidade.
No retorno vi algo diferente. Uma espécie de bomba de gasolina para veículos elétricos. Sim, em frente às revendas de carros instalaram unidades para abastecimento de energia. Da mesma safra que eu, passava por ali o Iunivaldo. Desembarcamos por aqui na mesma época. Ele veio de Santo Ângelo e eu de Erechim. Então, retornamos ao centro conversando sobre a evolução tecnológica, as maravilhas e histórias da cidade. Isso porque Passo Fundo é a mais acolhedora de todas as cidades cosmopolitas do mundo. E o berço é o Boqueirão.
Gin, rum e vermute
Bebidas que pareciam extintas retornaram à moda. Ganharam taças diferentes e mais algumas frescuras, como o velho e tradicional gin tônica. E dizer que o gin carregou quase todo um cast de Hollywood nos anos 1950? Por aqui, os jovens tomavam porres de gin tônica nos anos 1960/70 nas famosas reuniões-dançantes. O rum também está de volta, especialmente na Cuba Libre, tradicional mistura com Coca-Cola. E o vermute é outro que saiu das catacumbas etílicas e voltou a brilhar com o Negroni. Não resisti ao tilintar nostálgico das garrafas. Noite dessas no Bokinha, o Pablo preparou-me uma bebida com gin e vermute: o relaxante clássico Dry Martini, naquela taça indispensável nas mãos de James Bond.
Bacharach, Conniff e sertanojo
Da moda retrô à gangorra do modismo, ressuscitam de tudo um pouco. Inclusive muitas baboseiras e até mesmo algumas insanidades. Ora, por que não ressuscitar também o bom gosto? O ideal seria não destruir a qualidade. Ou, pior, substituí-la por porcaria que não pode sequer ser chamada de mau gosto, pois gosto não combina com nojo. Então, pergunto: onde anda o easy listening? Sim, aquele estilo de música que não incomodava aos ouvidos, não irritava e até permitia flutuar? Orquestras como Ray Conniff, a bossa clássica de Burt Bacharach ou o veneno de Erlon Chaves foram sufocados pela irresponsabilidade do imediatismo. Acredito que há umas três ou quatro décadas o easy listening foi trocado pelas vozes semitonadas, onde a desgraça das letras é mais um crime. E dizer que a propagação disso tudo começou através de concessões públicas. E dá-lhe sertanojo!
Avião, ônibus e praia
Dica de viagem. Para quem for de Passo Fundo a Florianópolis de avião, existe uma conexão de ônibus dedicada para Itapema e Balneário Camboriú. Você desembarca do avião em Foripa, embarca direto no ônibus e segue para o destino escolhido. O serviço especial é da Viação Catarinense e a passagem deve ser adquirida com antecedência no site da empresa.
Trilha sonora
Ray Conniff – La Mer