OPINIÃO

Entre cantigas e poemas

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Xiko Garcia é POETA e cantor. E, mesmo que o neologismo “cantautor” não apareça no repositório de palavras do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (o VOLP, mantido pela Academia Brasileira de Letras), no caso de Xiko Gracia, a denominação, que é usada para designar artistas que escrevem, compõem e cantam aquilo que produzem, nos parece adequada. Afinal, o maior orgulho de Xiko Garcia, insistentemente frisado por ele, é de somente interpretar canções e declamar poemas próprios. Eu diria, para simplificar, que Xiko Garcia é mais POETA metido a cantor do que cantor metido a POETA. Embora se saia bem nas duas funções.

Xiko Garcia é um virtuoso na manipulação de versos. Por dominar a métrica da rima, diz e canta, em versos bonitos, realidades, que, nem sempre, são assim tão belas ou previsíveis. Lida com as imprevisibilidades do mundo e a retórica dos sentimentos absurdos de forma magistral, construindo, por meio de poemas, verdadeiras crônicas do cotidiano. Na sua lírica própria, tem conseguido transformar em versos, de elevada carga poética, a realidade do mundo que nos rodeia, a partir das suas VIVÊNCIAS (não casualmente o nome do seu primeiro livro, publicado em 1998, que esgotou tiragem de 4500 exemplares).

Em 2014, quando tive o privilégio de ser convidado para assinar o prefácio do livro “O guri e o poronguinho”, editado, naquele ano, pela Aldeia Sul Editora, escrevi, e reitero aqui, que entre todas as credenciais usadas pelos editores para dizer quem é Francisco Mello Garcia – compositor, músico, escritor, cantor, poeta, bacharel em ciências contábeis, corretor de imóveis e membro da Academia Passo-Fundense de Letras –, no meu entendimento, uma só era mais o que suficiente para justificar o livro: POETA. Xiko Garcia, e isso não é de hoje, tem conseguido honrar, como poucos, a melhor tradição da boa poesia, que é, na relação poeta/escritor e leitor, transformar versos em emoção. Na poesia emoção é tudo. Havendo emoção é o suficiente para o que, até então, não passava de um mero conjunto de versos, vire poesia. E emoção é o que não falta nos poemas que dão forma ao livro ENTRE CANTIGAS e POEMAS, que tive a honra de ser convidado para prefaciar.

Adicionalmente, em 2014, acrescentei que o POETA Francisco Mello Garcia tem um jeito próprio de construir seus versos. Um jeito que se presta a ele e, muito provavelmente, a mais ninguém. Pode até não ser o poeta do verso perfeito. Não é um ourives dos versos alexandrinos, seguramente. Mas, que importa a teoria da versificação, quando nos deparamos com um POETA que prima por ser fiel com ele mesmo? Relevantes, em Xiko Garcia, são as mensagens por detrás dos versos, que, ao tocarem a sensibilidade do leitor, produzem a mais pura emoção. Dizer que Francisco Mello Garcia escreve para saudosistas é um erro. Para desfrutar Xiko Garcia não precisamos ser saudosistas. Precisamos é de sensibilidade e de algo cada vez mais raro nos tempos atuais: a capacidade de nos emocionarmos.

ENTRE CANTIGAS e POEMAS, a mais recente obra de Xiko Garcia, chancelada pela UPF Editora, reúne, em tomo único, 179 poemas, que representam la crème de la crème da sua vasta produção poética, ora ultrapassando a cifra do milhar. Incluídos no rol, os clássicos “O tempo” (Ao revisar o meu tempo/ Foi assim que refleti,/ Pois já perdi tanto tempo/ Tanto tempo já perdi./ ...), “Recado ao falecido pai” (Eh! Meu pai... Por te escutar/ Deixaste-me numa fria,/ Dizias que honestidade/ Era uma garantia,/...), “Como velho sonhei que morri” (Nós somos que nem a chuva/ Que é levada pelo vento,/ E a idade chega na gente/ Sem pedir consentimento,/ ...), “Mãe, Terra e Querência” (Todos nós temos na vida/ O que se chama "QUERÊNCIA",/ É a maior propriedade/ Que arquivamos na consciência, ...), “Peixes do Rio da Vida” (As vezes fico lembrando/ Do meu tempo de guri,/ Quando pescava na sanga/ Jundiá, cará e lambari. ...), “A temporária professora” (Tento usar com boas coisas/ As horas que Deus me empresta,/ Somando já foi bom tempo/ Não sei quanto hoje me resta, ...) e “As primaveras de nossa praça” (Meu amor ainda hoje eu me lembro/ Fim de setembro e o desabrochar das flores,/ Rosa em botão que mexeu meu coração/ Encheu meus olhos de beleza e de cores. ...), e muitos outros, menos conhecidos do grande público. Oxalá você aprecie, tanto quanto eu apreciei, a leitura desses poemas! Emocione-se com Xiko Garcia! Renati, Caroline, Isadora e Alessandro (in memoriam) sintam-se orgulhosos do POETA Xiko Garcia!

SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8

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