OPINIÃO

O ódio dos destituídos

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É chocante a insensibilidade cívica, cultural, ética e moral dos grupamentos mais fanáticos que professaram o golpe frenético e pusilânime contra a dignidade pátria no atentado de oito de janeiro do ano passado. O resultado eleitoral ungiu uma proposta política após campanha acirrada. Obviamente outro segmento, divergente, restou perdedor. A tristeza, descontentamento, certamente frustrou perdedores do certame eleitoral. A maioria vencida, certamente, mesmo divergindo, acatou o resultado, que se concretizou no processo em igualdade ponderável de manifestação nas urnas. Acontece que uma parcela dos perdedores já não admitia a possibilidade de alternar as rédeas do poder, durante a conturbada atitude do governo bolsonarista. As milícias digitais prosseguiram mobilizando e acelerando o transtorno cívico francamente ditatorial golpista. para deformar a legitimidade da sagrada instituição eleitoral. Além de fomentar a falta de razão social constitucional, o sistema tenebroso lançou mão de meios em violação ao sentimento pátrio materializado no voto. E foram revisitados métodos de dominação da recente e execrável ditadura de 64. A voz do povo, “vox dei”, enfrentava o rancor da “vox diaboli”, como se dizia no império romano. E, até o dia de hoje, ainda que em menor escala, vemos nas redes sociais uso de crianças sacudindo bandeiras, escudando atores de ações criminosas no vilipêndio à sede dos poderes. É absurdo demais querer replantar narrativas de paz e ternura para explicar a maldade na conspiração pérfida dos acampamentos insidiosos, de títeres que abandonaram suas próprias famílias, o sentimento pátrio e o respeito à ordem pública. Tudo para esconder um comando fujão que deixou território pátrio para não responder à ira da lei. Mas o país já conquistara muito seu estágio de justiça democrática. A multidão do ódio insiste em não entender, colocando para baixo do tapete a própria consciência, fugindo da irrevogável responsabilidade pelo atentado material às sólidas instituições, mediante violência. O escritor e religioso Gustavo Corsão já dizia no século passado: “Iratus legem non videt, lex videt iratum” – O ódio não vê e lei, mas a lei vê quem age pelo ódio. Assim, as instituições nacionais, democraticamente estão responsabilizando boa parte dos que praticaram o crime contra o país, em fragorosa má-fé.

 

Celebração

A data de 8 de janeiro surge como celebração da resistência democrática, por que a tentativa de golpe foi frustrada. Celebra-se a esperança de cobrir a chaga da destruição dos vândalos e seus mentores. O prejuízo é gigantesco para o povo. E a própria restauração material dos danos materiais, não apaga a memória deste evento triste, além da ofensa cultural, artística da nação. Celebra-se a resistência a uma conduta marginal.

 

Reis em Santa Cecília

Entre as felizes recordações da infância está a figura brilhante do Ventura. Ele tocava rabeca, feita por ele mesmo, do tronco de madeira especial – cedro, angico ou pinho. Comandava apresentações em vários momentos. O vilarejo de Santa Cecília prezava a música do velho Manoel da Boa Ventura- o Ventura. Negro muito respeitado e prezado por todos. Sua rabeca era presença apreciada. Estatura elevada e elegante, vestia uma espécie de túnica, em tecido de algodão, lembrando costumes de descendentes africanos. Alegrava a todos que se reuniam no salão de festas do hotel de madeira do meu pai. Mas era na festa do Santo Reis que reunia muita gente, num ambiente fraterno. As músicas ressoavam cantadas por negros e brancos. Um tambor e às vezes a gaita ou bandoneon do Calimero, conhecido por Inocência Preguiça. Todos tocavam gaita na família Calimero. Mas a beleza da celebração na Festa de Reis era comemorada com muita alegria, os homens no salão, e as mulheres na cozinha, inclusive Mariana, esposa do principal artista músico, o glorioso Ventura. Ventura vivia bem na sua propriedade rural, especialista na produção de galo carijó.   

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