OPINIÃO

O Educador Welci Nascimento

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Ao completar 91 anos, cumpridos nesse 14 de janeiro de 2024, Welci Nascimento, talvez não tenha amealhado reconhecimento maior em vida do que, mesmo passados mais de 40 anos desde que deixou o magistério formalmente, onde quer que ele se faça presente, ser chamado de PROFESSOR. Na essência, um EDUCADOR, seja no exercício do magistério em sala de aula, nos muitos cargos administrativos que ocupou na esfera da educação pública (Secretário Municipal de Ensino e Cultura e Coordenador Estadual de Educação, em Passo Fundo), nas instituições culturais que ele integra (Academia Passo-Fundense de Letras, Instituto Histórico de Passo Fundo, CTG Lalau Miranda e Conferência Vicentina São Marcos) ou no ambiente familiar, Welci Nascimento sempre primou, acima de tudo, por EDUCAR pelo exemplo.

Welci Nascimento é natural de Palmeira das Missões. Nasceu em 14 de janeiro de 1933. De origem humilde, ficou órfão de pai aos oito anos. Desde muito cedo precisou trabalhar para ajudar nas despesas da casa. Foi vendedor de quase tudo na rua. Ele mesmo conta que, certa ocasião, vendia maçãs que vinham da Argentina. Para facilitar a venda, ele lustrava as maçãs para ficarem mais apetitosas. Também foi vendedor de jornal na época da Segunda Guerra Mundial. E trabalhou numa tipografia por um ano, para poder ter aula particular de matemática e conseguir passar na prova de admissão ao ginásio, após ter cumprido o primário no Grupo Escolar Coronel Valsumiro Dutra. Aos 13 anos foi estudar na Capital, regime internato, na Escola de Iniciação Agrícola do Morro Santana e, depois cumprindo programa de Mestria Agrícola, em 1952, na Escola Técnica de Agricultura de Viamão (ETA), com a formação secundária obtida no Colégio São Manoel, em Porto Alegre. No deslocamento Palmeira das Missões a Porto Alegre, ia ao começo do ano letivo e voltava nas férias, com passagens de trem doadas pelo Governo do Estado do RS.

Em 1953, de volta a Palmeira das Missões, Welci Nascimento iniciou carreira no magistério, indo trabalhar na Escola Rural de Lajeado Quebrado, no interior do município. Foi, com a mãe Joana Nascimento e o irmão Wilson Nascimento, morar nas dependências da escola, onde passou a lecionar para uma classe unidocente até o 4°ano. Nessa época, conheceu Clair Lisboa, com quem se casaria em 1955. Esta união persiste há 69 anos. Um dos passatempos, mantido pelo casal desde que se conheceram, é jogar canastra depois do jantar, que, invariavelmente, Clair é a ganhadora. Aos 93 anos, Clair se orgulha de não tomar remédios, apenas analgésicos para dor nas pernas. Do matrimônio Clair e Welci, nasceram cinco filhos: Suzana, Roque Gonzales, João Manoel, Izabela e Magda, que lhes legaram os netos Luís Henrique, Luciano, Natália, Juliane, Joana, Rodrigo, Gabriel e Anabele e a bisneta Isabel. Família à qual se incorporaram os genros João, Robert e Evandro, todos gremistas, para a tristeza do sogro colorado.

Em Palmeira das Missões, Welci Nascimento trabalhou na Escola Estadual Técnica Celeste Gobbato, no Colégio Estadual Três Mártires e na Delegacia de Educação como supervisor do Ensino Rural. E, em 1972, foi transferido para Passo Fundo, onde atuou como Supervisor do Ensino Rural na 7° Delegacia de Educação. E, além de Secretário de Educação e Cultura na administração do prefeito Firmino Duro, também serviu como Delegado de Ensino Estadual. Aqui concluiria sua formação universitária, pela UPF, em Pedagogia, 1975, e Ciências Jurídicas e Sociais, 1979. Na seara da política local, foi militante, organizador e secretário-geral da Executiva Municipal do PMDB, sendo candidato a vice-prefeito, na eleição e 1982.

Welci Nascimento, na visão dos filhos, se destaca como pai amoroso e pela generosidade, cujos ensinamentos lhes foram legados, acima de tudo, pelos exemplos. Um avô parceiro e brincalhão, daqueles que tem paciência para contar histórias aos netos e está sempre disposto a ensiná-los a operar a sua velha máquina de datilografia, na qual todos os seus livros foram escritos. A filha Magda relembra que, “depois do jantar era hora de dançar. Eu, ainda bem pequena, seguia agarrada na perna do pai para acompanhar o ritmo da música. Isso era muito divertido!” E, assim como fazia quando os filhos eram pequenos, os seus netos também aprenderam a escutar música no seu toca disco e apreciar a sua coleção de discos de vinil, que guarda em destaque na sua casa. Welci sempre gostou de música e de bailes. Esse gosto ele passou para os filhos e netos. Como tradicionalista, costumava levar a família aos bailes do CTG Lalau Miranda. Foi membro da patronagem do Lalau Miranda e organizou a biblioteca e o Museu Tradicionalista do CTG. Uma ocasião levou a sua neta Natália, ainda pequena, para discursar na “Boca Maldita”, no centro da cidade, dizendo ao prefeito o que deveria melhorar na cidade. Sempre incentivou a prática da oratória com os netos e netas. Ninguém podia dizer “e daí”, quando contava uma história para ele.

As lições e os valores compartilhados, ainda hoje, no ambiente familiar, são muitos. Destaque para a religiosidade, pela fé católica, o respeito às diferenças, a valorização do estudo e das conquistas e o zelo pela família. Uma ocasião, durante um almoço de domingo, relembra a filha Izabela, “ele disse que, por mais que esteja ruim, não reclame, agradeça sempre”. Nos almoços de domingo, nas festas de aniversários, nas celebrações em família nunca podia faltar oração e graças, sempre em prol da união familiar. Nos verões, costumavam ir à praia, E como a família era grande, certa feita, comprou uma Kombi para poder levar todos para acampar em Areias Brancas.

Welci Nascimento, como membro da Academia Passo-Fundense de Letras, na qual ingressou em 1988, foi um escritor profícuo. Autor de 19 livros e incontáveis textos dispersos nos mais variados tipos de publicação. Relação dos livros de Welci Nascimento: Conheça Passo Fundo Tchê, 1992; Terra Gente e Tradição, 1992; Casamento - compromisso a longo prazo, 1993; Maragatos e Pica-Paus, por que brigaram tanto?, 1993; A História da Comunidade Paroquial São Judas Tadeu da Vila Luiza, 1994; Vultos da História de Passo Fundo v.1, 1995; Perfil da Academia Passo-Fundense de Letras, 1995; Viaje no Tempo, 1998; A Pregação dos Tradicionalistas, 1999; De Capela a Catedral, 2000; Academia de Bocha - Amigos do Marcondes, 2003; Sonho Vicentino, 2006; As ruas de Passo Fundo do século XIX, 2006; Vultos da História de Passo Fundo v.2; 2010; Dona Heloisa – Memórias, 2012; Rio Grande de São Pedro, 2014; Um Sonho, 2014; Construindo a Vida, 2015; Aconteceu em Passo Fundo, 2017; Caminhando, 2019; e Passo Fundo uma história já contada, 2023.

Para melhor retratar a figura humana de Welci Nascimento, encerramos essa homenagem aos 91 anos do ILUSTRE PROFESSOR, com o poema PAI, escrito pelo filho João Manoel Nascimento: “Não rima com euforia / Tampouco com melancolia /, Mas. Se tem uma palavra que com ele combina, / Sem dúvida é alegria. / É o exemplo que fala mais alto que a voz, / A conduta que cala o argumento / Sem ferir o sentimento, / Pois é brando o mestre e não algoz, / Palavras firmes sem hesitar, / Mostra o caminho, / Deixa andar sozinho, / Mas sempre perto do seu olhar. / Porque o afeto é seu condutor, / O trabalho honesto é seu caminhar / E sua vida, sua força e sua fé / São firmes pilares sustentados pelo amor.”.

(Coluna escrita com a colaboração de Izabela Nascimento.)

SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8



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