No início do ano, esta coluna apontou alguns dos principais riscos geopolíticos para 2024. Entre eles, o da corrida armamentista. Atualmente, há mais de cem conflitos armados em curso no mundo. Em política internacional se costuma dizer que não há paz, mas armistício (tréguas de um conflito para outro). Seja na Ucrânia, uma guerra de atrito sem previsão de término e nem de vencedor, ou no Oriente Médio, na batalha de Israel contra os terroristas do Hamas – o cenário é incerto e, justamente por isso, demanda um alto custo militar. As guerras não são baratas. Israel, por exemplo, quando aprovou o seu orçamento militar para este ano, em maio de 2023, nem se imaginava a possibilidade de um ataque externo. Assim, o governo teve de rever o gasto, aumentando-o consideravelmente (155 bilhões de dólares). No leste europeu, a aventura de Putin obrigou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a ressignificar consideravelmente o seu orçamento militar para 2024, com aumento de 12%, mais de 2 bilhões de euros, projetando os futuros (e necessários) exercícios militares de prontidão. Putin, por seu turno, conseguiu aprovar um orçamento recorde, com o incremento de 30%, chegando em cerca de 376 bilhões de euros.
EUA
Na maior potência mundial, os EUA, o congresso passou um significativo orçamento para 2024, mais de 880 bilhões de dólares. Um dos objetivos é conter a projeção desenfreada dos chineses, na região Indo-Pacífica. O orçamento também prevê ajudas militares à Ucrânia, mas em menor medida, dada a forte pressão dos congressistas, descontentes com os pacotes intermináveis de Biden. O orçamento causou grande controvérsia, uma vez que prevê um programa de vigilância eletrônica internacional de não americanos, inclusive de e-mails, tudo sem a necessidade de mandado judicial.
China
O Ocidente estima que o orçamento militar chinês é muito maior do que o anunciado, uma vez que não se pode levar a sério as informações do Partido Comunista Chinês. A estimativa de algumas autoridades americanas é de que a cifra possa girar em 700 bilhões de dólares. A China tem aumentado a sua projeção militar, principalmente em águas internacionais, a partir de seu apetite desenfreado pela dominação do Mar do Sul da China. Taiwan também é peça relevante no orçamento. Os exercícios militares em torno da ilha são custosos e, uma futura anexação, demandaria alto investimento. Na esteira da ameaça chinesa, o orçamento de Taiwan também bateu recordes, chegando aos 19 bilhões de dólares, com incremento de 5%. Há também um budget adicional, para a aquisição dos novos jatos americanos F-16V.
Gastos militares
O gasto militar é decorrência do irreversível resultado da balança de poder entre as principais potências em disputa. Neste ano, novas tecnologias serão agregadas, com destaque para a utilização da inteligência artificial. O gasto com a defesa se torna imperioso, na medida em que o eixo das potências autocráticas ameaça diariamente, dos mísseis balísticos à narrativa nuclear. O risco aumenta ainda mais, a partir da ameaça norte-coreana, que tem obrigado tanto a Coréia do Sul como o Japão, a reforçarem significativamente os seus orçamentos militares. O ano de 2024 tem grande potencial evolutivo para um caos bélico, em um mundo cada vez mais anárquico.