O evangelista Marcos, que a liturgia dominical nos faz ler e meditar neste ano, está nos colocando no caminho de Jesus. Progressivamente vai revelando quem ele é e o que deseja com a missão evangelizadora. A reação dos ouvintes diante da sua pregação na sinagoga de Cafarnaum foi de admiração, espanto e de reconhecimento da autoridade dos seus ensinamentos. Os textos deste domingo descrevem a rotina de Jesus (Jó 7,1-4.6-7, Salmo 46, 1 Coríntios 9,16-19.22-23 e Marcos 1,29-39). Jesus sai da sinagoga e visita uma pessoa doente e a cura, outros doentes são levados a ele e os cura, expulsa demônios, se retira a um lugar deserto para rezar, explica que deve pregar em outros lugares e se coloca novamente em movimento.
Para nossa reflexão escolhemos o tema do anúncio do Evangelho, pois junto com a descrição do evangelista Marcos apresentando Jesus como pregador, soma-se o testemunho de São Paulo na Carta aos Coríntios. Neste texto, não aparece diretamente o que Jesus pregava, mas a afirmação que deve anunciar. “Jesus respondeu: “Vamos a outros lugares, às aldeias da redondeza! Devo pregar também ali, pois foi para isso que vim”. Se os evangelistas não concentraram somente atenção nas palavras proferidas por Jesus, mas incluíram gestos, movimentações, reações, contatos físicos revela que a evangelização engloba toda vida de Cristo.
A missão evangelizadora de Jesus, desde seu começo, envolveu seus discípulos. O testemunho de São Paulo, na Carta aos Coríntios, apresenta como ele compreendeu a missão que recebeu. O que ele diz é válido sempre. “Pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade. [...] a iniciativa não é minha, trata-se de um encargo que me foi confiado. [...] Livre em relação a todos, eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os fracos, eu me fiz fraco, para ganhar os fracos. Com todos, eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns. Por causa do Evangelho eu faço tudo, para ter parte nele”.
O testemunho de São Paulo, a exemplo de Jesus, revela que o evangelizador não prega somente com palavras. Em primeiro lugar, o Evangelho anunciado por Jesus é propriedade de Deus. Foi confiado a alguém para levá-lo aos outros. Tanto o conteúdo do Evangelho, quanto o ato de pregar sempre necessitam de delegação. Por isso, o pregador precisa cultivar a humildade e não a glória. A tarefa evangelizadora empenha todas as capacidades e recursos humanos do pregador, revela a necessidade do pregador adaptar-se para conseguir aproximar-se dos destinatários.
A finalidade do anúncio do Evangelho é a salvação. O evangelista Marcos descreve as mudanças que vão acontecendo nos lugares que Jesus passava: curas, desperta novos discípulos, expulsa demônios, leva as pessoas à oração. Salvar é criar vida no cotidiano das pessoas, até conduzi-la à vida eterna. Salvação é viver ao modo de Jesus. Numa canção o Pe. Zezinho se expressou assim: “Amar como Jesus amou. Sonhar como Jesus sonhou. Pensar como Jesus pensou. Viver como Jesus viveu. Sentir o que Jesus sentia. Sorrir como Jesus sorria. E ao chegar ao fim do dia eu seu que dormiria muito mais feliz”.
São Paulo empenha-se ao máximo na evangelização: “faço tudo”, “eu me fiz tudo, para certamente salvar alguns”. Ele está consciente que o Evangelho somente pode ser apresentado, proposto aos ouvintes. A resposta e adesão são atos livres e conscientes dos ouvintes. Evangelizar é levar as pessoas ao encontro pessoal com Jesus Cristo. Escreve o papa Francisco na Exortação apostólica Evangelii Gaudium; “Quem arrisca, o Senhor não o desilude; e, quando alguém dá um passo em direção a Jesus, descobre que Ele já o aguardava de braços abertos a sua chegada.”
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo