A contenda entre a Rússia e a Ucrânia é considerada como uma “guerra de atrito”, ou seja, não possui prazo para o seu término e muito provavelmente não haverá vencedores. Já se vão quase dois anos. Os custos são altos, para ambos os lados. A estratégia inicial de Putin foi um fracasso, tendo que recuar de Kiev com o seu exército, que não calculou a resiliência ucraniana. Em recente entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson, em caráter de exceção, Putin declinou a sua cantilena soviética, com toda a sorte de um revisionismo histórico que atende apenas a sua narrativa delirante. Todavia, os líderes ocidentais, e mais precisamente os EUA, não calcularam um relacionamento estratégico e inteligente com a Rússia, nas últimas décadas, deixando-a isolada, a se preocupar com os novos pontos estratégicos da OTAN em seu entorno. O fenômeno da guerra se desdobra em várias frentes, alimentado pelas narrativas do Coronel, seja nuclear ou até mesmo, espacial. Enquanto essa coluna era fechada, o governo americano falava de ameaça à segurança nacional, vinda da Rússia, supostamente no campo espacial, que poderia colocar em risco os satélites americanos. Uma guerra sem previsão de término demanda uma série de custos, ao passo em que há uma profunda divisão nos EUA sobre os pacotes alcançados à Ucrânia. Na entrevista, Putin chegou a dizer que terminaria a guerra se a ajuda americana ao Zelensky cessasse.
Pacote
O senado americano acabou de aprovar mais um pacote de ajuda militar à Ucrânia, e para Israel, somando a cifra de 95 bilhões de dólares. A aprovação contraria as últimas discussões na Câmara dos Deputados. Trump demonstrou a sua oposição ao pacote do senado, encorpando o coro de parlamentares críticos às ajudas militares, que sugerem empréstimos. Da ajuda militar, 60 bilhões de dólares seriam dirigidos à Ucrânia. A temática certamente será embalada pelo pleito eleitoral que se avizinha, com Trump demonstrando a sua contrariedade. Para os americanos, a política externa é um dos assuntos prioritários em uma eleição.
Mar Negro
O Mar Negro tem se tornado um epicentro no conflito. Temos discutido aqui na coluna os fortes impactos das tensões que transbordam dos territórios para os mares. A Ucrânia conseguiu destruir praticamente um terço da frota de Putin, no Mar Negro. Nesses últimos dias, mais uma embarcação russa foi destruída (o Caesar Kunikov). A estratégia tem funcionado a partir da utilização de drones, uma vez que a Ucrânia não possui uma marinha de guerra, ao contrário da Rússia. O Mar Negro é vital para Kiev, no contexto da exportação de grãos, ao mundo inteiro, a partir de um corredor marítimo pensado estrategicamente. A tática de Putin tem sido os ataques deliberados às infraestruturas portuárias da Ucrânia. O que restou de sua frota, a Rússia tem enviado para locais seguros, dando temporariamente uma vitória a Zelensky. Mas se há uma vitória pontual no Mar, no plano terrestre a história é outra, em uma guerra de atrito com altos custos, a probabilidade de um vencedor é muito pequena. Os pacotes de ajuda cada vez mais serão questionados, ainda mais em um ano eleitoral. A política externa desastrosa de Biden concede a Trump uma boa margem para validar as suas narrativas.