Yuval Harari, autor de “Sapiens: uma breve história da humanidade”, diz que A Riqueza das Nações de Adam Smith apresenta “uma das ideias mais revolucionárias do mundo”. Alan Greenspan, no livro “Capitalismo na América”, diz que Smith “deu um salto intelectual notável. Até então as pessoas consideravam a aspiração à realização do interesse próprio, na melhor das hipóteses, errada; e, na pior, um pecado. Smith argumentou que, contanto que se desse dentro dos limites da lei e da moralidade, a busca pela realização do interesse próprio só contribuía para o bem-estar de toda a nação”.
Uma ideia simples
A ideia básica de Smith é simples, diz Harari: “o desejo humano egoísta é a base para a riqueza coletiva. Não só de uma perspectiva econômica, mas também moral e política: o interesse privado, o egoísmo, é algo bom e que o indivíduo ao ficar rico beneficia a todos. Se sou pobre, você também será pobre, porque eu não posso comprar seus produtos ou serviços. Se sou rico, você também enriquecerá, já que assim você pode me vender alguma coisa.”
Uma sociedade não pode ser feliz e próspera em meio a pobreza
Adam Smith não era defensor do egoísmo puro e simples. Segundo ele, “nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz, se a grande maioria de seus membros forem pobres e miseráveis”. E é “um mandamento da justiça que aqueles que alimentam, vestem e dão alojamento ao corpo inteiro da nação, tenham uma participação tal na produção de seu próprio trabalho, que eles mesmos possam ter mais do que alimentação, roupa e moradia apenas sofríveis.” Enfim, diz Adam Smith, “a riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza dos príncipes”
Condenação do trabalho infantil e defesa da educação pública
Smith viveu no século 18, época em que a situação da humanidade era de muita pobreza, mesmo na Inglaterra, um dos países mais ricos de então. Mesmo assim demonstrou sua visão humanista ao condenar o trabalho infantil e a escravidão. Os meninos não deveriam ser colocados muito cedo no trabalho porque acabariam desvencilhando-se da autoridade dos pais e entregando-se à embriaguez e às rixas. O Estado deveria promover a educação, não só das crianças e jovens, mas de todo o povo. Quanto mais instruído for um povo, “tanto menos estará sujeito às ilusões do entusiasmo e da superstição que, entre nações ignorantes, muitas vezes dão origem às mais temíveis desordens. Um povo instruído e inteligente sempre é mais decente e ordeiro do que um povo ignorante e obtuso.”
Adam Smith como crítico social
Em várias passagens de seu livro, Smith fez críticas ao comportamento egoísta obtuso e antissocial. Eis algumas:
“A ambição universal do homem é colher o que nunca plantou.”
“É injusto que toda a sociedade contribua para custear uma despesa cujo benefício vai a apenas para uma parte dessa sociedade.”
“A ciência é o grande antídoto contra o veneno do entusiasmo e da superstição.”
“Pessoas do mesmo ofício raramente se encontram, mesmo que em alegria ou diversão, mas se tiver lugar, a conversa acaba na conspiração contra o público, ou em qualquer artifício para fazer subir os preços.”
“Não existe arte que um governo aprenda de outro com maior rapidez do que a de extrair dinheiro do bolso da população.”
Dois casos extraordinários sobre o poder do “sistema da liberdade natural”
Nas próximas colunas vamos tratar de dois casos sobre a força que tem o “sistema da liberdade natural” para promover o enriquecimento de uma nação: a China e o Vietnã. Ironicamente, elites políticas comunistas adotaram os mecanismos do livre mercado (capitalismo) para criar prosperidade para suas nações. A história comprova o acerto das ideias do grande pensador escocês.