OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Imagine isto: o principal líder político de um país renuncia, não estando lá, enquanto uma guerra civil surge nas ruas. Essa é a realidade do Haiti, um pequeno país do Caribe que faz fronteira com a República Dominicana e possui cerca de 11 milhões de habitantes. A história do país é uma mescla entre grandes desastres naturais e profunda instabilidade, com a troca de regimes, em grande medida ditatoriais. Assassinatos políticos também são comuns, sendo o caso mais recente o do então presidente Jovenel Moïse, morto por gangues em sua residência, em 2021. Podemos considerar o Haiti como um Estado falido, quando não há mais controle por parte do governo e a sociedade está à beira de uma guerra civil, em um cenário com frágil e deteriorada infraestrutura. Quem está no comando, de forma ilegal, neste momento, é um líder da principal gangue no país, Jimmy Chérizer, conhecido como Barbecue (churrasco), por sua fama de queimar opositores. A renúncia de Ariel Henry deu-se após uma viagem internacional, em que tentava pedir ajuda para outros países. As gangues destruíram o aeroporto, para que Henry não pudesse retornar. Chérizer, por seu turno, avisou recentemente em entrevista que não permitirá ingerência internacional na suposta transição para um governo. As gangues foram se infiltrando cada vez mais na comunidade haitiana, com autonomia para enfrentar o governo e impor os seus próprios interesses. Nos últimos dias, as gangues soltaram mais de 4 mil presidiários, em um cenário de completo caos e descontrole. A população do país está abaixo do estado de emergência e toque de recolher.

 

Missões internacionais

 

As missões internacionais no Haiti, entre elas, a das Nações Unidas, EUA e até mesmo do Brasil, não foram capazes de lidar com a complexa conjuntura do país. Os próprios políticos acabam usando as gangues para relativa influência. O País não possui Forças Armadas e também não tem polícia que seja o forte suficiente para se impor o mínimo de organização. Houve uma reunião na Jamaica, entre alguns líderes da região, com intuito de debater a possível transição de governo, após Henry comunicar que seria criado uma espécie de “conselho de transição”. Ele liderava o governo (também transitório) após a morte de Moïse, sem ter proposto eleições durante esse período, gerando questionamentos na comunidade.

 

Cenários

 

As gangues já destruíram parte da infraestrutura da capital, Porto Príncipe, e estão tomando as sedes de governo e até mesmo os postos policiais. Nas próximas semanas, a população muito provavelmente estará desabastecida. As gangues assumirão o controle do país e determinarão o seu futuro, tudo isso se não houver um esforço internacional para tentar debelar essa conjuntura. Tentarão estabelecer um governo com fantoches à sua inteira disposição. Líderes internacionais começam a anunciar pacotes de ajuda. Ainda há uma incógnita se o conselho vai realmente promover uma transição de poder, na medida em que as gangues vão, muito provavelmente, fazer uma transição ao seu modo e com os seus interesses. A coordenação internacional será fundamental, não somente em termos de apoio, mas uma ingerência relativa a fim de se evitar uma guerra civil e o derramamento de sangue em um país à beira da anarquia. 


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