Desde que Netanyahu lançou a operação contra os terroristas do Hamas, no Norte de Gaza, já se sabia que haveria um longo e complexo caminho, principalmente quando as prioridades são distintas: de um lado Netanyahu, preocupado com a sua sobrevivência política, colocando como objetivo essencial a eliminação do Hamas, do outro lado uma considerável parte dos israelenses, que consideram ser o objetivo primário o retorno célere dos reféns nas mãos dos terroristas. Em termos operacionais, Israel conseguiu um enorme avanço no Norte de Gaza, com a destruição dos complexos subterrâneos do Hamas, o que implica dizer, em grande medida, que essa porção territorial está completamente destruída. Em Rafah encontram-se mais de 1 milhão de palestinos e no meio deles os terroristas. Uma guerra assimétrica é de difícil desenrolar. No tabuleiro geopolítico da região, importa saber o posicionamento de alguns players relevantes.
As posições
Os EUA não estão dispostos a apoiar plenamente a incursão em Rafah, nitidamente pelas questões logísticas envolvidas, ou seja, a dificuldade de deslocar mais de 1 milhão de pessoas, para a porção Norte, amplamente destruída e sem infraestrutura e a dificuldade de um futuro armistício. Israel cancelou a comitiva que iria aos EUA, discutir outras possibilidades no horizonte estratégico. A posição do Egito é a de fortalecer a fronteira com Rafah, com receio de que a contenda se espalhe pelo Egito e uma crise imigratória se estabeleça. A União Europeia possui forte receio, principalmente pela questão humanitária.
Cenários
Com a iminente operação em Rafah, a depender ainda da posição americana, alguns cenários se abrem na conjuntura da guerra, entre eles: 1) uma operação de larga-escala em Rafah; 2) o cancelamento da operação; e 3) uma operação limitada.
Uma operação de larga-escala
Este é o cenário essencial para Netanyahu e o seu objetivo de eliminar o Hamas, mesmo com um alto custo. A vitória de Netanyahu se daria com a conclusão do desfecho em Rafah, mas isso ainda não lhe garantiria grande sobrevida em termos políticos, podendo, pelo contrário, até mesmo lhe desfavorecer, se o caos se instalar. Muitos israelenses ainda consideram que parar a guerra seria uma derrota para o país e é essa base que Netanyahu quer ampliar. Israel precisaria muita precisão, principalmente, nos corredores humanitários e nos deslocamentos da população, que ficaria desassistida no Norte de Gaza.
Cancelamento
Isto significaria que a pressão internacional seria suficiente para demover Netanyahu. Aqui se destacaria a posição dos EUA. Aqui a pressão egípcia iria se escorar que a operação poderia criar uma profunda crise entre Israel e o Egito.
Uma operação limitada
Este cenário seria um intermediário. Netanyahu, sem o apoio internacional e com o receio de que a operação fosse cancelada, buscaria um meio termo, a fim de se evitar uma tragédia humanitária. A operação teria que ser hábil, mesmo com limitações, a derrotar o Hamas e ter um apoio relativo dos EUA, dentro de algumas balizas operacionais. Muitas questões devem ser mensuradas por Netanyahu, não apenas o seu apoio político interno e internacional. Outra questão a ser resolvida seria a da infraestrutura no Norte, após eventuais deslocamentos em massa, evitando-se uma grande tragédia.