Penumbra eclíptica
Em relação ao trânsito de Passo Fundo, impera a falta de educação ou eu é que sou um chato de galochas? A resposta surge naturalmente diante dos fatos e atos da cena cotidiana. Domingo, quase ao meio-dia, três pessoas tentam atravessar a faixa de segurança na Brasil, entre o canteiro central e o Clube Comercial. Um carro para e eles conseguem chegar à metade da faixa. Então, quase foram atropeladas por uma moto em alta velocidade. Um passo à frente e outro motoqueiro foi obrigado a parar. Imediatamente arrancou e saiu gritando alguns impropérios para aqueles que atravessavam o asfalto.
Num único caso várias irregularidades: não parar para os pedestres que estavam na faixa, direção perigosa, risco de atropelamento e, ainda, desrespeito e ofensas verbais. Não vi nenhuma espécie de guarda ou policiamento nas proximidades. Aliás, parece que não há uma atividade sistemática nas ruas para coibir esses e tantos outros tipos de infrações. Ora, a presença ostensiva de agentes públicos poderia coibir muitas irregularidades e até dar um puxão de orelha nos idiotas, abusados, mal-educados, péssimos motoristas, aproveitadores e outros arquétipos de falsos malandros.
Se não há uma cura imediata para a má-educação, existem meios paliativos para atenuar sua proliferação. O mais eficaz disponível no mercado é o velho talão de multas. É muito pedagógico e tem por base o processo educacional que atinge os neurônios que transmitem os impulsos da sensibilidade do bolso. Porém, sem vislumbrar agentes públicos pelo caminho, essa turma pensa que está na Esbórnia. E aí, salve-se quem puder. Então, além da minha chatice e da falta de educação de alguns, parece que também há um eclipse.
As cores da Brahma
Quando a cidade está mais bonita, também nos sentimos mais elegantes. Desço a escadaria da Brahma e encontro a General Netto com asfalto novinho em folha e bonita sinalização pintada no cordão. Então, vi que o antigo prédio da Brahma está em preparação para receber uma nova pintura. Apesar do fundo bege, os pintores disseram que será mantida a cor original do prédio, um cinza um pouco mais escuro. A recuperação é realizada pelo Hospital São Vicente, atual proprietário do icônico local. Olhei para a porta e veio à lembrança um filme colorido com sabores e aromas. Sim, o perfume da cevada e o sabor daquele chope engarrafado que era servido em coquetéis no refeitório da empresa.
Os sabores da Brahma
Uma ou duas vezes por ano, a Companhia Cervejaria Brahma reunia a imprensa em datas alusivas. Nas festas para a imprensa, jornalistas e radialistas seguiam um protocolo informal que definia o orador da categoria de acordo com o local. No Turis Hotel, Múcio de Castro soltava divertidas ironias para seu amigo e anfitrião Thadeu Nedeff. Na Brahma o orador era José Ernani, que, por muitos anos, repetia o mesmíssimo discurso. Lembrava que seu pai trabalhou na empresa e que na sua casa “jamais entrou sequer um guaraná que não fosse da Brahma”. E a turma trocava olhares escondendo o riso, para que o orador não caísse em gargalhadas. Passo Fundo e a Brahma viveram um romance da mais absoluta fidelidade recíproca. Bons tempos, chope inesquecível.
Velho bacalhau
Há 42 anos, mantenho a tradição de preparar um bacalhau às Sextas-feiras Santas na cozinha dos queridos amigos Lorena e Aldrian Ramires. Uma brincadeira que iniciou com a reserva das revistas de culinária na maravilhosa Revisteira Central. Esse ano, reverenciamos o saudoso Antoninho Ferri, que participou dos primeiros encontros, erguendo um brinde com Chateauneuf du Pape. A turma aumentou e o quórum também: Maurício e Renata, Augusto e Ana, Fernanda e Léo, Renan e Ione, além da novíssima galerinha com Gabriel, Sofia, Henrique, Martin e Pedrinho. Não faltou a pirotecnia dos pimentões flambados que, agora, encanta uma nova geração. Uma alegria envolta em muito carinho.
Centenário
Não faltam calendários para medir o tempo. Além daquele da Caixa (meu predileto), podemos utilizar o Gregoriano, Juliano, Etíope, Chinês, Judaico, Islâmico, Juche ou Maia. São diferentes, mas chegam ao mesmo resultado: faltam 441 dias para o Centenário de O Nacional.
Trilha sonora
A dica veio do amigo Jango, que alguns insistem em chamar de João Luís Varella D’Avila.
Aretha Franklin - What I Did For Love