Se não bastassem os conflitos terrestres, o potencial evolutivo de conflitos marítimos é significativo, principalmente no entorno do Oceano Pacífico, que guarda toda a sorte de atritos e guerras futuras, em diferentes contextos. Aukus é a sigla em inglês para Austrália, Reino Unido e EUA, três grandes potências econômicas que se juntaram em 2021, preocupadas com o desenrolar geopolítico no Pacífico e, especialmente, no expansionismo chinês, que vem tomando corpo, em termos militares. Os líderes dos três países comunicaram recentemente algumas mudanças futuras na Aukus, com a possibilidade de integrar o Japão, na iniciativa. Há também uma previsão de que os australianos, ainda neste ano, estejam treinando em submarinos nucleares americanos, a partir da transferência da tecnologia militar advinda dos EUA e do Reino Unido. Esses submarinos serão fornecidos à Austrália, em um programa nas próximas décadas. A Austrália havia acertado a compra de submarinos com os franceses, mas desde que a Aukus foi criada, viram mais benefícios nos americanos.
Japão
O Japão também é uma grande potência econômica com preocupações sobre o expansionismo sem freios de Pequim. A gradual adição do Japão mudará os contornos geopolíticos, a começar na própria constituição do país, que prevê apenas forças de defesa. O Japão, como é comum em termos de balança de poder, se vê rodeado de ameaças, sejam chinesas ou até mesmo norte-coreanas, com os testes de mísseis balísticos, que têm atingido o mar territorial do Japão. Acrescente-se a isso a escalada complexa nas tensões da China com Taiwan, que possui desdobramentos potenciais, em termos geopolíticos. Assim, o Japão representa uma mudança importante na Aukus, que tem o seu futuro incerto, a se considerar o cenário em que Trump será eleito. Nesse cenário, Trump poderia não prosseguir com o enfrentamento direito à China, buscando alternativas. O reforço no relacionamento americano com o Japão é um upgrade importante, não visto nos últimos 60 anos. Biden e Kishida (Primeiro-ministro japonês) fizeram uma série de anúncios em termos de uma ampla cooperação militar, da sua modernização aos programas espaciais (um astronauta japonês vai participar da missão da NASA na lua). Em termos de ameaças aéreas, há previsão de uma rede de defesa comum, com sensores de alta tecnologia.
Contenção
A Aukus foi gestada, principalmente, para criar um mecanismo de contenção geopolítica ao avanço chinês na região do Indo-Pacífico. O alarme vermelho foi a escalada de tensões no Mar do Sul da China, que é reclamado em sua inteireza por Pequim, que frontalmente desrespeita os países ribeirinhos naquele mar. EUA, Austrália e os países da região têm desenvolvido uma série de exercícios militares, uma vez que a China se projeta às águas azuis (águas internacionais), inclusive com tecnologia de submarinos nucleares e de caças, a partir de porta-aviões destacados no mar. Soma-se a esta ameaça, a incógnita envolvendo o Taiwan, que tem o condão de mudar a geopolítica na região, abrindo espaço para conflitos regionais. A China provavelmente vai se manifestar sobre o aumento da Aukus, uma que considerava na época da sua criação, como uma “mentalidade de guerra fria”. O que vemos é resultado direto da balança de poder.