OPINIÃO

LUZ NA CAVERNA Os livros iluminam nossa caverna e diminuem nossa cegueira

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O SENTIDO DA VIDA (1)

 Por que eu devo viver?

           Steven Pinker, no livro “O Novo Iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo”, diz que a pergunta mais instigante que já teve de responder veio no final de uma palestra em que ele discorreu sobre a ideia tão comum entre os cientistas de que a vida mental consiste em padrões de atividade nos tecidos do cérebro. Foi feita por uma estudante que, com candura, perguntou: “Por que eu devo viver?”

           Pinker respondeu que, no próprio ato de fazer aquela pergunta, ela estava buscando razões para suas convicções e que, portanto, ela estava comprometida com a razão como meio para descobrir e justificar o que era importante para ela.

 

Razões para viver

           Pinker respondeu para a estudante que existem muitas razões para viver. Como um ser senciente, ela tinha o potencial para se desenvolver. Podia refinar sua faculdade de raciocínio aprendendo e debatendo. Podia procurar explicações sobre o mundo natural na ciência. As artes e as humanidades podiam revelar aspectos básicos da natureza humana. Podia apreciar a beleza e a riqueza do mundo natural e cultural. Como herdeira de bilhões de anos em que a vida se perpetuou, ela podia, por sua vez, perpetuar a vida. Ela foi dotada do sentimento de solidariedade (a capacidade de gostar, amar, respeitar, ajudar e demonstrar bondade) e pode desfrutar o dom da benevolência mútua com amigos, parentes e colegas.

 

A responsabilidade de dar aos outros o que esperamos para nós.

           E tudo isso não era exclusividade dela, razão pela qual ela teria a responsabilidade de dar aos outros o que ela esperava para si. Ela podia proporcionar bem-estar a outros seres sencientes, aprimorando a vida, a saúde, o conhecimento, a liberdade, a abundância, a segurança, a beleza e a paz. Quando nos solidarizamos uns com os outros e aplicamos a nossa engenhosidade para melhorar a condição humana, o progresso material e moral torna-se possível. E ela podia contribuir para a continuidade desse progresso.

 

O princípio iluminista

           Aquelas possibilidades de viver uma vida significativa, de contribuir para o progresso moral e material das sociedades humanas, fazem parte dos princípios iluministas: razão, ciência, humanismo e progresso. Immanuel Kant (1724-1804) formulou a definição mais citada do Iluminismo (século 18): “é a saída do ser humano da menoridade de que ele próprio é culpado”, de sua submissão “preguiçosa e covarde” aos “dogmas e fórmulas” da autoridade política e religiosa. Kant lançou o lema do Iluminismo: “ouse saber” (sapere aude), “tenha coragem de pensar por si mesmo”.

 

Otimismo

           Para a tradição iluminista, se ousarmos saber, o progresso será possível em todas as esferas: a científica, a política e a moral. Esse otimismo iluminista, conforme o físico David Deutsch, é “a teoria de que todas as falhas – todos os males – decorrem da insuficiência do conhecimento. Problemas são inevitáveis, pois nosso conhecimento sempre estará infinitamente longe de ser completo. Mas é um erro confundir problemas difíceis com problemas sem probabilidade de solução. (...) Uma civilização otimista é receptiva à inovação em vez de temerosa, e se baseia em tradições que incluem críticas. Suas instituições aperfeiçoam-se continuamente, e o conhecimento mais importante que incorporam é o conhecimento de como detectar e eliminar erros”.

 

O maior bem, o conhecimento; o maior mal, a ignorância

           Sócrates (c. 469-399 a.C.) disse que existe apenas um bem, o conhecimento; e apenas um mal, a ignorância. E só por meio de conhecimento podemos libertar-nos espiritualmente da escravatura exercida pelas falsas ideias, pelos preconceitos e pelos ídolos. Apesar de todas as suas deficiências, diz Pinker, “a natureza humana contém as sementes de seu próprio aperfeiçoamento, contanto que proponha normas e instituições que canalizem interesses particulares para benefícios universais. Entre essas normas estão a liberdade de expressão, a não violência, a cooperação, o cosmopolitismo, os direitos humanos e o reconhecimento da falibilidade humana. Entre as instituições estão a ciência, a educação, os meios de comunicação, o governo democrático, as organizações internacionais e os mercados. Não por coincidência, esses foram os principais frutos do Iluminismo.”

 

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