OPINIÃO

Deputados e a ética

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As informações na Câmara Federal indicam que o pedido de cassação do deputado Chiquinho Brazão comece tramitar na Comissão de Ética da casa. Sempre que o parlamento nacional depende de procedimento especial para julgar infração ética de algum de seus pares, instala-se uma letargia sinistra do corporativismo. Vê-se a demora em formalizar o relatório de acusação, ou absolvição, para apresentação em plenário. Isso acontece nos casos de maior gravidade, como na situação específica do deputado Chiquinho Brazão, acusado de ser mandante no assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista. Embora as evidências coletadas pela Polícia Federal, nem o mais amplo e irrestrito direito de defesa de Brazão poderá afastar a clareza das provas contidas no processo sobre o bárbaro assassinato. Mesmo assim, com adiamento da instalação de ética, permanece a delonga para a confirmação dos titulares da comissão, especialmente o relator. Ao mesmo tempo vicejam as articulações parlamentares pressionando pela negativa da punição disciplinar máxima que seria a cassação do mandato. Já há quem alegue que ainda não houve julgamento condenatório criminal do acusado. Enfim, há esforço da parceria política visando amenizar a punição. Esse movimento de proteção ao acusado conta com o tempo de adiamento para criar ambiente defensivo. As acusações que pesam sobre Chiquinho e seu irmão, na condição de principais mandantes do assassinato parece que não abalam os adeptos colegas partidários da mesma corrente. Eles podem, sim, ainda que nos pareça absurdo, relevar a conduta assassina que resultou da mais tenebrosa investigação policial. A relatoria, segundo se informa, ficará entre deputado do PT ou PL, uma vez que os primeiros indicados para a comissão de ética, alegaram dificuldades para assumir a tarefa.

 

Transparência

As mazelas terríveis enraizadas no poder político são elementos amplos na corrupção interna do aparelho policial carioca. O fato de ter sido execução amparada pelos líderes da própria polícia, que deveria proteger Marielle, tornam tudo mais impactante. Um crime de horror contra uma vereadora de bem, ofende dolorosamente a vida democrática do país. A trama executada com braço miliciano revoltou a humanidade. Seis anos de investigação exaustiva prejudicada por elementos poderosos ligados ao crime organizado, exige resposta responsável de membros do Congresso Nacional, em defesa da justiça social e da democracia. Foi um grande sacrifício entregar a investigação transparente, que levou à cadeia o mandante Chiquinho Brazão, em prisão preventiva. A votação da autorização para a preventiva revela que a extrema direita está disposta a proteger o suposto assassino no parlamento nacional.

 

Ancião

A perplexidade da opinião pública ainda busca entender o que se passou com o ancião Paulo Roberto, levado moribundo numa cadeira de rodas pela sobrinha para assinar autorização de empréstimo consignado. Agora chegam informações sobre Erica, a sobrinha desatinada que seguia persistente pelos corredores para obter o dinheiro do empréstimo. Sem julgamento sobre a atitude, já se sabe a lucidez da investigada. Ela vem de muito tempo com abalo na saúde mental. Mas o que a teria feito conduzir um morto para autorizar o empréstimo? Sua percepção falhou em todos os momentos, menos no objetivo de receber o dinheiro. Aparentemente ela ainda está alheia ao essencial dos fatos. O pior é que tratamento semelhante assombra idosos indefesos, antes da morte.

 

Sem anistia

Na praia de Copacabana esteve reunida multidão convocada para apoiar Bolsonaro. Movimento pacífico, mas não desconectado dos atos de violência de 8 de janeiro. Apelos de sua mulher Michele criticando ministros de Lula. E por mais de meia hora, a fala de Bolsonaro, sem ataques, mas pedindo anistia para os acusados dos atos de violência contra os três poderes em Brasília. Ao pedir tal clemência aos criminosos da mesma estirpe política, insinua por inspiração a anistia no período da ditadura. Por esse caminho, não dá! A compreensão justa dos acusados e alguns já condenados, é garantida pelo devido processo legal, o direito de defesa amplo e irrestrito. A democracia é a dose suficiente de anistia. Essa mesma democracia atacada de modo vil, pelos invasores.  

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