O sentido da vida é um tema instigante. Para a ciência, vida não tem um sentido determinado, cabe nós darmos a ela um significado. A vida de um homem não tem importância maior para o universo do que a de uma ostra, escreveu David Hume (1711-1786), filósofo britânico. Para as religiões, o sentido da vida reside na obediência aos mandamentos, contidos em documento com a Bíblia, o Torá e o Alcorão. Para a maioria das religiões, a vida verdadeira, bem-aventurada, estaria numa existência após a morte. Não é pequeno o número de pessoas que afirmam que a vida na Terra é “um vale de lágrimas”, sendo apenas uma passagem para outra vida após a morte.
Uma xícara de chá
A procura de um sentido para a vida também tem sido tratado com bom humor. No livro “Platão e um Ornitorrinco entram num bar ... A filosofia explicada com senso de humor”, seus autores citam uma piada. “Um estudioso ouviu dizer que o guru mais sábio de toda a Índia vive no alto da montanha mais alta da Índia. Então o estudioso atravessa mundos e fundos para chegar até a montanha famosa. Ela é incrivelmente íngreme e mais de uma vez ele escorrega e cai. Quando chega ao alto, está todo cheio de cortes e hematomas, mas lá está o guru, sentado de pernas cruzadas diante de sua caverna.
- Ó, sábio guru - diz o estudioso - vim lhe perguntar qual é o segredo da vida.
- Ah, sim, o segredo da vida - diz o guru. O segredo da vida é uma xícara de chá.
- Uma xícara de chá? Eu vim até aqui em cima para descobrir o sentido da vida e o senhor me diz que é uma xícara de chá?
- Bom, então talvez não seja - diz o guru, dando de ombros.”
Life sucks
Steven Pinker, no livro “Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana”, refere-se a um certo pessimismo com que a vida é tratada. Segundo a Primeira Verdade Sagrada de Buda, “o nascimento é doloroso, a velhice é dolorosa, a doença é dolorosa, a morte é dolorosa...” Ele também cita trechos da letra de um rock: Life sucks, then you die (“A vida é uma droga, e depois você morre”).
A condição humana é um labirinto
Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político italiano, pergunta se nós, humanos, somos moscas em uma garrafa ou peixes em uma rede? Para ele, nenhuma das respostas. “A condição humana pode ser configurada melhor em uma terceira imagem, que eu privilegio: a do labirinto. Cremos saber que exista uma saída, mas não sabemos onde se encontra. Não havendo ninguém além de nós que nos possa indicá-la, temos de procurá-la sozinhos. Depois de buscar um sentido para a vida, percebemos que não faz sentido levantar a questão do sentido, e que a vida deve ser aceita e vivida no que tem de imediato, como faz a grande maioria dos homens. Mas quanto esforço é necessário para chegar à essa conclusão.”
(Bobbio, O Tempo da Memória)
A vida é curta
A doutrina de uma alma que vive depois de morto o corpo desvaloriza nossa vida na Terra. “Alusões a uma existência feliz depois da morte são típicas nas últimas cartas de pais que tiram a vida dos filhos antes de suicidar-se, e recentemente fomos lembrados como tais crenças encorajam homens-bombas suicidas e sequestradores camicases.” Susan Smith, a mãe que afogou seus dois filhos em um lago, teria apaziguado sua consciência racionalizando: “meus filhos merecem o melhor, e agora o terão”.
O conforto emocional de uma crença na vida após a morte, no entanto, pode ser uma faca de dois gumes. A vida perderia o propósito se deixássemos de existir quando nosso cérebro morresse? Não, ao contrário: “nada dá mais significado à vida do que a percepção de que cada momento de sensibilidade é uma dádiva preciosa. Quantas brigas foram evitadas, quantas amizades se renovaram, quantas horas deixaram de ser desperdiçadas, quantos gestos de afeição foram oferecidos porque às vezes nos lembramos de que ‘a vida é curta’.”
(Steven Pinker, Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana)