Na história da humanidade temos obras sublimes falando sobre o amor. O amor é o tema do sexto domingo da Páscoa (Atos10,25-48, Salmo 97, 1João 4,7-10 e João 15,9-17). As reflexões que seguem destacam os ensinamentos contidos nos textos bíblicos da liturgia. “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.
O mandamento do amor não é novo no mundo bíblico e nem em outras tradições religiosas, filosóficas e culturais. A novidade é que Jesus se apresenta como modelo e medida do amor, que não se fundamenta em ideais filantrópicos, mas se fundamento na trindade. “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei”. O amor entre Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito se torna o modelo das relações vivenciais entre as pessoas.
“Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos”, é uma segunda marca do amor que vem de Deus. É um amor que se manifesta na história e é cercado de testemunhas que viram, ouviram, tocaram o fato. Na primeira carta, São João escreve: “Mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados”. Na sexta-feira da Paixão e Morte do Senhor é celebrado este amor de doação total. Acontecimento que revela que Deus abraçou inteiramente a humanidade, inclusive com as suas maldades. Não fugiu do mundo, mas abraçou o mundo para “que tenhamos vida por meio dele”.
“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e conhece a Deus”. O amor de Deus é gratuito e universal. Relata o livro de Atos que São Pedro estando na casa de Cornélio, um pagão, compreende que “Deus não faz distinção de pessoas. [...] qualquer que seja a nação a que pertença”. Na condição humana experimentamos o amor com que se assemelha a nós: familiares, parentes, grupos de interesse. O que é classificado por amor, por vezes, é sentimento de posse e domínio. O amor de Deus não é atração ou desejo de poder, nem é recompensa por mérito, nem correspondência. Diz o evangelista que Deus faz chover sobre os bons e maus. Um amor que é dom e não conquista.
“Já não vos chamo de servos, pois o servo não sabe o que faz o seu senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai”. Para fazer compreender o seu amor Jesus usa o símbolo da amizade. “Não tendo o incentivo da paixão ou do vínculo de sangue, a amizade exprime melhor a liberdade do amor, necessária para que este atinja o amadurecimento. A fidelidade em qualquer amor torna-se madura quando livre, e esta liberdade se dá na medida em que o amor estiver integrado com a amizade. A amizade é a única experiência universal de amor, aquela que todos podem ter e, por isto, como símbolo é significativo para todos. Os celibatários não experimentarão nunca o amor paternal ou maternal; os órfãos não sentirão o amor filial; os filhos únicos não conhecem o amor fraterno; muitos homens e mulheres, por vocação ou circunstância, não tiveram noivado nem casamento (o próprio Cristo não os experimentou). Em compensação, qualquer pessoa pode sentir amizade, da mesma forma que Jesus experimentou. A vocação para o amor amizade é universal, assim como o amor que Deus oferece em Jesus” (Segundo Galilea, A Amizade com Deus, p.12)
Jesus exige que a relação entre os discípulos e ele seja de amizade. Sendo o centro do grupo não se põe acima dele. Quer ser companheiro dos seus na tarefa comum. Compartilha o trabalho que se considera comum e responsabilidade de todos. Os discípulos não são assalariados e sim amigos que voluntariamente colaboram na tarefa. Vive na sua companhia em clima de confiança. Ele está com eles e fá-los compartilhar de sua vida. Agora não ensina mais porque já sabem de tudo. O ensino é a própria convivência, a relação amorosa.