Ricordi D´Italia na Catedral
No momento em que toda comunidade, em especial a rio-grandense, procura refúgio e força para vencer o desastre causado pela enchente, recorremos ao ritual religioso. O grupo vocal amador do Coral Ricordi D´Itália, que se mantém há décadas em Passo Fundo participa da missa dominical na Catedral de Nossa Senhora Aparecida, da arquidiocese de Passo Fundo. A celebração será às 18h. O apelo comunitário é para todos, e é solicitada a oferta de 1kg de alimento como colaboração na ajuda aos flagelados de nosso estado. Esta contribuição é simbólica e ao mesmo tempo real no socorro às vítimas da enchente. O gesto, como oração em forma de arte musical, tem sido muito presente nas manifestações e preces religiosas. Afinal, quem canta reza duas vezes, em todos os credos. Além da participação nos hinos religiosos, após o ofício da missa haverá apresentação de músicas folclóricas italianas, ao comando do maestro Davi Reginato. As vozes do Ricordi são reconhecidas num musical enraizado na própria comunidade. Mesmo em tempos difíceis para eventos de cooperação e arte, a apresentação é oportunidade recomendável a toda a comunidade.
Procurando o chão
O relato do dilúvio, na Bíblia, lembra a constante procura do homem para assegurar um pedaço de chão onde possa viver. Angústia na arca de Noé, flutuando durante quarenta dias e quarenta noites, na barca salvadora de pessoas e animais, indica que o caos de muitos sobreviventes sugere a constante reflexão de andarmos na vida com os pés no chão. E quando a fúria das águas assola nossa compreensão, há o imponderável exílio de nossa estrutura material. E somos despertados para desafios incertos. Ruas, rios, regatos, baixadas e suaves colinas são cobertos por água. Chuva e lama. Muros destinados a ingênua contensão caem e rolam com casas, animais, gente, estoques de alimento, água potável, depósitos de comércio e indústria, memórias e até documentos de identificação. Abruptamente não somos nada. Devastação. E ficamos quase imóveis, sem saber como reagir. E o caos não encerrou sua ronda funesta.
Arautos do abismo
Não é novidade, a ousadia infame dos malfeitores que roubam as casas, equipamentos, e até tratores, num imenso território onde as pessoas de bem encontram dificuldades para se defender. A ajuda de outros estados, que poderia aumentar o potencial de socorro aos desabrigados, com alimentos, remédios e resgate, desloca-se pelas áreas alagadas para garantir segurança. Essa realidade dos agentes do mal fica mais evidente quando olhamos para o abismo das condições de vida. A célebre frase “abyssus abyssum invocat” (o abismo invoca o abismo) tona-se algo real com ações de bandidos e odiosos que espalham fake News, desinformando a coletividade e desrespeitando a dor alheia.
Escolas
São 40 escolas estaduais destruídas. Centenas com danos de urgente reparação. No momento, 40% dos alunos não conseguirão retomar as aulas. Para quase duzentos mil alunos é difícil prever quando poderão recomeçar o ano escolar. As crianças, mesmo voltando ao convívio escolar, carregam o trauma do flagelo que não poupou ninguém no estado.
Pensar
O programada Rádio Uirapuru, que fala sobre ecologia, sob o comando do Tasca, colocou em tela o assunto da chuvarada, conectando ao equilíbrio ambiental. Quem acompanha o jornalismo há mais tempo sabe que tem sido difícil a compreensão pública e principalmente dirigentes políticos, tratar com seriedade o meio ambiente. O programa foi uma aula apresentada por conhecedores do assunto, relegado por vários anos, mas hoje irremediavelmente prioritário. Não dá mais para tolerar a renitência dos negacionistas que não respeitam conquistas da ciência. Pelo amor de Deus, parem com as violações especulativas nos leitos dos rios, na vegetação que guarnece o equilíbrio subterrâneo das águas que se infiltram no solo pela genialidade da natureza. Diríamos que precisamos de um silêncio produtivo para a escalada humana nas suas conquistas. “Dieu parle dans le calme plus haut que dans la tempête” (Mickiewkcz).
